INCLUSÃO EDUCACIONAL: ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES /SUPERDOTAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL DE CARAMBEÍ-PARANÁ/BRASIL

EDUCATIONAL INCLUSION: STUDENTS WITH HIGH ABILITIES /GIFTEDNESS IN SPECIAL EDUCATION OF CARAMBEÍPARANÁ / BRAZIL

Mag. Simone Miranda dos Santos Svierkoski17

RESUMO

Este estudo de caso foi realizado com alunos com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação de 5° e 9º ano do ensino fundamental, seus respectivos responsáveis, coordenadores de Educação Especial, gestores, coordenadoras pedagógicas e professores. Os participantes responderam a entrevistas semiestruturadas, questionários de identificação de indicadores de AH/SD, além de grupo focal. O objetivo geral foi analisar como acontece a inclusão escolar de alunos com AH/SD de 5º e 9º ano em duas escolas públicas de Caram-| 103 beí. Os resultados demonstraram a invisibilidade dos alunos com AH/SD nas instituições, a identificação de 11 alunos que apresentaram indicadores de AH/SD e carência na identificação e atendimento a este público.

Palavras-chaves: Altas Habilidades/Superdotação. Inclusão Educacional. Educação Especial

ABSTRACT

This research aims to present case studies of students with indicators of High Abilities/Giftedness in the 5th and 9th grades of School and their parents, special education coordinators, principal, pedagogic coordinators and teachers. Semi-structured interviews, focus groups and identification questionnaires of High Ability/Giftedness were conducted. The main objective was to analyze how the inclusion of High Abilities/ Giftedness students in 5th. and 9th. grades happens in two public schools in Carambeí. The results demonstrated the invisibility of students with High Abilities/Giftedness in schools, the identification of students with indicators of High Abilities/Giftedness and the lack of effective strategies to identify and serve students in the public system.

Keywords: High Abilities/Giftedness. Inclusive Education. Special Education.

17 Mestre em educação pela UDE (Universidad de La Empresa). Licenciada em pedagogia pela FAPI (Faculdade de Pinhais). Especialista em Neuropsicopedagogia Institucional e Clínica pela CENSUPEG. Docente na rede pública de ensino, atuando no ensino fundamental l e educação especial. Neuropsicopedagoga clínica, atuando com avaliação e intervenção de dificuldades de aprendizagem. Pesquisadora na área de Altas Habilidades/Superdotação pela UDE.

Ao refletirmos sobre a proposta da inclusão educacional, logo pensamos nas alternativas pedagógicas e desafios de sua efetivação. As políticas educacionais brasileiras apontam em direção da transformação por meio de novas proposições que surgem para o contexto escolar, a fim de se entender como realizar mudanças significativas no cotidiano educacional.

Sendo assim, a educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades dos alunos que constituem seu público-alvo no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta para a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento destas práticas colaborativas.

Na perspectiva da inclusão educacional, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com Deficiência, Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades/Superdotação, no qual a adequação da inclusão deve ser atendida caso a caso, ressaltando-se que, para cada público-alvo da educação especial, é assegurado um atendimento especial diferenciado (Brasil, 2008).

Esta pesquisa inscreve-se no paradigma qualitativo, empregando para a investigação o estudo de caso e utilizando para a coleta de dados a análise documental, entrevistas e grupo focal, além de procedimentos de identificação de indicadores de AH/SD. A referente pesquisa aconteceu em duas instituições públicas de ensino que oferecem Atendimento Educacional Especializado (AEE), tendo como participantes os alunos com indicadores de AH/SD identificados nas turmas de 5º e 9º ano, seus responsáveis e professores, o corpo docente, os coordenadores pedagógicos e de Educação Especial dessas escolas e seus gestores. Teve como objetivo geral analisar como acontece a inclusão escolar de alunos com AH/SD de 5º e 9º ano em duas es-colas públicas do município de Carambeí no ano de 2017.

CONCEITUANDO INTELIGÊNCIA E ALTAS HABILIDADES/ 104 | SUPERDOTAÇÃO

Para Gardner (1999), conceituar a inteligência não é uma tarefa fácil, uma vez que o conceito comumente presente deriva de uma visão tradicional na qual a inteligência está relacionada a um potencial único e geral que está intimamente ligado à mensuração por meio de testes psicométricos. Sobre a escolha da terminologia ele esclarece que “[...] não atribuo qualquer valorização particular à palavra inteligência, mas, de fato, atribuo grande importância à equivalência de diversas faculdades humanas” (Gardner,1994, p.11).

A teoria das inteligências múltiplas

A inteligência, para Gardner (1999, p. 47), é “[..] um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura”. As habilidades na resolução e solução de problemas e a criação de novos produtos são pré-requisitos deste potencial dentro de seu contexto cultural.

Gardner (1999 e 1994), propõe a existência de oito inteligências:

A inteligência linguística, que é a capacidade de aprender novas línguas, a sensibilidade para a língua falada e escrita.

A inteligência lógico-matemática, que é a capacidade de analisar problemas com lógica, realizar operações matemáticas e investigar cientificamente. A inteligência musical, que é a capacidade de atuação, composição e apreciação de padrões musicais, presente em compositores e musicistas.

A inteligência corporal-cinestésica, que é a capacidade de usar o próprio corpo de maneiras diferentes e hábeis para resolver problemas ou criar produtos.

A inteligência espacial, que é a capacidade de perceber e manipular o mundo visual com precisão e a capacidade de recriar a experiência visual sem a necessidade de estímulos físicos.

A inteligência interpessoal, que é a capacidade de observar e compreender as emoções, motivações e intenções em outros indivíduos.

A inteligência intrapessoal, que é a capacidade de detectar e simbolizar sentimentos pessoais complexos, um autoconhecimento que permite regular a própria vida eficientemente.

A inteligência naturalista, que é a capacidade de reconhecimento na classificação de inúmeras espécies na fauna e flora em seu ambiente.

O autor explicita que a inteligência enquanto potencial biopsicológico é influenciada por fatores: genéticos, ambientais, culturais e experimentais.

Altas habilidades/superdotação

Utilizamos o conceito apresentado por Renzulli para permear nosso estudo, a Teoria dos Três Anéis, já que “um dos modelos mais utilizados na prática educativa [...] é a definição de Renzulli, sua definição é uma das que melhor reflete o modo em que a maioria dos experts no campo da superdotação, utiliza o termo superdotado” (Tourón; Peralta; Repáraz, 1996, p. 25). As Altas Habilidades/Superdotação podem ser de dois tipos: o tipo acadêmico e o produtivo-criativo.

O tipo acadêmico

A pessoa que apresenta o comportamento deste tipo utiliza mais o pensamento dedutivo, convergente e analítico, sendo considerado um consumidor de conhecimento. Este tipo de AH/SD é o tipo mais facilmente identificado em testes padronizados como testes de QI e de habilidades cognitivas, que também são as mais valorizadas na aprendizagem tradicional escolar, por isso é o tipo mais incluído em programas para crianças com Altas Habilidades/Superdotação (Tourón; Peralta; Repáraz, 1996; Renzulli, 2014).

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O tipo produtivo-criativo

A pessoa que apresenta o comportamento deste tipo utiliza mais o pensamento indutivo, divergente e prático. Renzulli afirma que “[...] a história mostra que as pessoas criativas e produtivas do mundo foram produtoras, e não consumidoras, de conhecimento, reconstrutoras de pensamento em todas as áreas do esforço humano, reconhecidas como indivíduos “realmente superdotados” (Renzulli, 2014, p. 232).

Ao contrário de consumidores, são produtores de conhecimento, e aplicam suas habilidades em áreas e problema de estudo de relevância pessoal, com desafios investigativos.

A teoria dos Três Anéis

A Teoria dos Três Anéis nos mostra as principais dimensões do potencial humano para a criatividade produtiva. O nome é derivado dos três conjuntos de traços que interagem: habilidade acima da média, comprometimento com a tarefa e criatividade (veja figura 1).

Fonte: Adaptado e traduzida de Renzulli (2016)

Em sua mais recente publicação, Renzulli (2016) esclarece que o comportamento superdotado é resultado 106 |

de “interações que ocorrem entre dois ou os três conjuntos de traços. A criatividade e o comprometimento com a tarefa não sempre estão presentes ou ausentes, mas ocorrem como resultado do estímulo fornecido por experiências de aprendizagem formais e informais” (Renzulli, 2016, p.1).

A habilidade acima da média consiste na capacidade de desempenho ou potencial, em níveis superiores aos dos seus pares etários, série escolar ou áreas de desempenho fora do ambiente escolar e pode se apresentar como habilidade geral - a capacidade para processar informações, integrar experiências que permitem executar respostas adaptativas a novas situações ou habilidade específica- consiste na capacidade de adquirir conhecimento ou na habilidade de desempenho em uma ou mais atividade ou num âmbito específico e restrito (Tourón; PERALTA; REPÁRAZ, 1996; FREITAS; PÉREZ 2012, 2016).

A habilidade acima da média pode ser demonstrada em uma ou mais áreas de desempenho acadêmico ou em uma ou uma combinação das seguintes áreas documentadas no trabalho de Howard Gardner: 1. Habilidade linguística; 2. Habilidade lógico-matemática; 3. Habilidade espacial; 4. Habilidade corporal-cinestésica; 5. Habilidade musical; 6. Habilidade interpessoal [...]; 7. Habilidade intrapessoal [...]; 8. Habilidade naturalista [...] (Renzulli, 2016).

A criatividade consiste na demonstração de originalidade de ideias e resolução de problemas que sobressaem em relação aos seus pares etários e manifesta-se pelo alto nível de fluência de ideias, flexibilidade, originalidade, abertura a experiências novas, sensibilidade aos detalhes, elevado nível de curiosidade, senso estético desenvolvido e gosto por enfrentar desafios (Tourón; Peralta; Repáraz, 1996; Freitas; Pérez 2012, 2016).

Comprometimento com a tarefa consiste na “demonstração de perseverança, resistência, dedicação e tempo e esforços extensos para perseguir um trabalho em uma área de interesse selecionada pelo próprio estudante” (Renzulli, 2016, p.1). O comprometimento com a tarefa envolve: perseverança, resistência, trabalho duro, dedicação e segurança ao desenvolver um trabalho importante, além de expectativas elevadas, qualidade e excelência no seu próprio trabalho e no dos outros (Tourón; Peralta; Repáraz; 1996).

Identificação de alunos com Altas Habilidades/Superdotação Para Bendelman e Pérez (2016) a estimativa de alunos com AH/SD é de 7 a 10% em qualquer população, de qualquer país. As autoras esclarecem que a incidência pequena de 1 a 3% na população, é um dos mitos que cercam estes sujeitos. Segundo elas, este erro se dá ao considerar pessoas com AH/SD apenas as que apresentam escores superiores a 130-140 no teste de QI.

Virgolim (2007) coloca que há muitas estratégias para se identificar o aluno com Altas Habilidades/Superdotação em procedimentos informais e de observação, sendo eles: 1. Nomeação por professores; 2. Indicadores de criatividade; 3. Nomeação por pais; 4. Nomeação por colegas; 5. Autonomeação; 6. Nomeações especiais; 7. Avaliação dos produtos; 8. Escalas de características e listas de observação; 9. Nomeação por motivação do aluno;

Para Pérez e Freitas (2016, p. 64) la forma de confirmar a existência dos indicadores de AH/SD é sempre a constatação da intensidade e da frequência de indicadores durante um período mais longo de vida da pessoa”. Esta constatação se dá por meio dos instrumentos de triagem e identificação de indicadores de AH/ SD que fazem parte do Manual de identificação de Altas Habilidades/Superdotação (Pérez; Freitas, 2016).

Legislação vigente para o atendimento especializado aos alunos com Altas Habilidades/Superdotação no Brasil

A lei Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, em seu capitulo V, trata da educação especial, apontando em seu artigo 58 que:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (Brasil, 2013).

A referida lei estabelece ainda, nesse mesmo artigo, a oferta de serviços de apoio especializados, dentro da escola regular, que possam atender as especificidades de cada educando.

Já as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica apresentam uma “definição”, pro-postas de atenção especializada e de aceleração para alunos com AH/SD:

[...] Altas Habilidades/Superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os levem a dominar rapidamente | 107 conceitos, procedimentos e atitudes e que, por terem condições de aprofundar e enriquecer esses conteúdos, devem receber desafios suplementares em classe comum, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive para concluir, em menor tempo, a série ou etapa escolar. (Brasil, 2001b, p. 39).

O Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/14) no intento de reduzir as desigualdades e valorizar a diversidade, propõe metas específicas para cada nível de formação da educação, dentre eles a educação especial, que tem como meta principal universalizar o acesso à educação básica de alunos com necessidades especiais, no ensino regular, em salas de recursos multifuncionais, em instituições públicas ou privadas. Além disso, prevê o cadastro dos alunos com Altas Habilidades/Superdotação, posteriormente determinado pela lei 13.234/15.

METODOLOGIA

Esta pesquisa se enquadra no paradigma qualitativo, empregando para a realização da investigação a técnica de estudo de caso (Triviños 1987).

Teve como objetivo geral analisar como ocorre a inclusão escolar de alunos com AH/SD de 5º e 9º ano do ensino fundamental em duas escolas do município de Carambeí no ano de 2017 e como o corpo docente e os gestores dessas escolas a percebem. E como objetivos específicos: a) Analisar como são implementadas as políticas públicas educacionais vigentes para os alunos com AH/SD em duas escolas públicas do município de Carambeí; b) Averiguar o número de alunos com AH/SD declarados no Censo Escolar nas escolas públicas do município de Carambeí; c) Identificar os alunos com AH/SD nas turmas de 5º e 9º ano do ensino fundamental das escolas estudadas, e; e) Compreender a percepção dos gestores, coordenadores pedagógicos e corpo docente das escolas pesquisadas sobre a inclusão escolar dos alunos com AH/SD.

A pesquisa foi realizada em duas escolas do município de Carambeí, no estado do Paraná. Os participantes desta pesquisa pertencem a três grupos diferentes: sete alunos com indicadores de AH/SD identificados no Para a coleta de dados foram utilizados: Questionário de caracterização dos coordenadores, gestores e professores (Gil, 2008), Roteiro para o grupo focal (Godim,2002 e Kind, 2004), Roteiros de entrevista semiestruturada (Triviños, 1987) e Instrumentos de identificação de alunos com Indicadores de AH/SD (Pérez e Freitas, 2016).

Procedimentos metodológicos

O procedimento da coleta de dados aconteceu em cinco etapas e de forma concomitante nas duas instituições de ensino, a saber: a) Procedimentos de autorização de pesquisa; b) Grupo focal com os professores do ensino fundamental l e ll; c) Entrevistas com professores do ensino fundamental l e professoras do AEE e entrevistas com os coordenadores e gestores; d) Identificação dos alunos com indicadores de AH/SD por meio de instrumentos de triagem e posteriormente questionários individuais e; Análise documental.

ANÁLISE DE DADOS

Para a análise dos dados, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2011). Assim, foi realizada uma cuidadosa leitura de todos os materiais coletados, classificando as respostas e organizando os dados nas categorias definidas a priori e posteriori. O Quadro 1 evidencia a categorização utilizada no estudo, que dará origem aos capítulos seguintes.

Quadro 1- Categorização dos dados

108 | AS CONFUSÕES

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS DIMENSÕES SUBDIMENSÕES
COMO OS PROFESSORES OS MITOS SOBRE AS AH/SD
A CONCEPÇÃO SOBRE AS AH/SD COMO OS GESTORES ENTENDEM AS AH/SD ENTENDEM AS AH/SD AS CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS COM AH/SD
AS CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS COM AH/SD A INDISCIPLINA
A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM AH/ PARA OS PROFESSORES A FALTA DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA
A INCLUSÃO/EXCLUSÃO DO ALUNO COM AH/SD A EXCLUSÃO DOS ALUNOS AH/SD SD PARA OS GESTORES A FALTA DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA
A EVASÃO ESCOLAR CMO FORMA DE EXCLUSÃO
O “LAUDO” COMO FORMA DE EXCLUSÃO
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM ALUNOS COM AH/SD

A IDENTIFICAÇÃO DOS ALUNOS COM AH/SD

Fonte: elaborado pela autora

O TRANSTORNO DE ASPERGER O PRODÍGIO O ALUNO ESTUDIOSO AH E SD PARA OS PROFESSORES PARA OS GESTORES PARA O CENSO ESCOLAR PARA A REALIDADE O FANTASMINHA

A CONCEPÇÃO SOBRE AS AH/SD

Tourón; Peralta; Repáraz (1998) apontam que uma definição de AH/SD deve ser útil e favorável para a sociedade e para os sujeitos com AH/SD, pois grandes talentos podem se perder conforme a definição adotada. Neste sentido, é importante percebermos as concepções que os envolvidos no processo educacional apresentam sobre os alunos com AH/SD, pois os mesmos fazem parte do seu processo de identificação e atendimento.

Quadro 2 - Categoria Concepção de AH/SD de gestores, coordenadores e professores, suas subcategorias e dimensão.

A partir das respostas apresentadas às perguntas que investigavam a concepção de AH/SD e as características que os docentes, gestores e coordenadores atribuíam às AH/SD, identificamos a presença de mitos e as crenças populares já registrados na literatura (Pérez; Freitas, 2016; Bendelman; Pérez, 2016) aparecem claramente nos depoimentos dos docentes, dos gestores e dos coordenadores como sendo o aluno sabichão, NERD, metido, estudioso ou nota 10. Identificamos também a confusão das AH/SD com o Transtorno de Asperger, a precocidade, o prodígio e a diferenciação equivocada entre Superdotação e Altas Habilidades, além da caracterização como o aluno que “vai bem em tudo”,“precisava de mais conteúdo”,“era muito bom”, “sabia mais que eu”,“aluno nota 10”. Algumas destas características podem ser encontradas nos alunos com AH/SD, mas não são todas, nem estarão necessariamente em todos os alunos.

A INCLUSÃO/EXCLUSÃO DO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/ SUPERDOTAÇÃO

Para Pérez (2011), a invisibilidade dos alunos com AH/SD está ligada a desinformação sobre a temática, sobre a legislação e a falta de formação acadêmica docente.

Fonte: Elaborado pela autora

Os alunos com AH/SD são público-alvo da educação especial, porém, o processo inclusivo depende de uma rede de fatores interligados e relacionados que influenciam a implementação destes serviços (Pérez; Freitas, 2012). Verificamos que os professores não percebem a importância e a necessidade da inclusão dos alunos com AH/SD. Podemos relacionar isso ao fato de que a ideia difundida na sociedade é de que a “necessidade educacional especial” está relacionada à deficiência e o professor por sua vez acaba não relacionando esta necessidade também ao aluno com AH/SD (Pérez; Freitas, 2012). A falta de formação sobre as AH/SD também favorece a invisibilidade destes alunos e consequentemente a práticas pedagógicas inadequadas.

A garantia do acesso e a permanência bem-sucedida do aluno com AH/SD não tem acontecido nas instituições de ensino pesquisadas e pudemos identificar alguns pontos que dificultam esta garantia como a falta de conhecimento da importância sobre a identificação e atendimento educacional especializado aos alunos com AH/SD, um currículo engessado, que não contempla as habilidades e interesses e a crença errônea de que o “laudo”, o “diagnóstico” clínico é a forma de identificação destes alunos. Ao invés de incluir, tais fatores acabam por contribuir na evasão escolar destes alunos.

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A IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO COM AH/SD

Para que as leis, normas e documentos norteadores da educação especial assegurem o direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), é necessário o atrelamento da oferta à demanda; para tanto, uma das funções do AEE é a identificação dos alunos com AH/SD.

Quadro 3 - Categoria Identificação de alunos com AH/SD, suas subcategorias e dimensão.

Fonte: Elaborado pela autora

Conforme já observado na literatura (Delou, 2007; Pérez; Freitas, 2011 e 2012), apesar de todos os documentos legais definirem os alunos com AH/SD como público-alvo da educação especial, há uma parcela muito significativa destes alunos que permanece invisível dentro das salas de aula, sendo desconhecidos pelos inúmeros profissionais da educação as características e os indicadores que permitem identificá-los.

O Censo Escolar é o principal instrumento de coleta de informações da educação básica e é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Ele abrange as diferentes etapas e modalidades da educação básica e profissional, dentre elas a educação especial. O Censo Escolar de Educação Básica de 2017 registrou 19.451 alunos com Altas Habilidades/Superdotação em classes comuns e 248 em classes especiais em todo o Brasil.

O censo escolar de Carambeí, dentre os dados disponíveis por município – entre 2014 e 2017, não há registro de alunos com AH/SD na educação básica. Porém, em nossa pesquisa, tomamos ciência de um aluno da rede municipal de ensino identificado com AH/SD que não fazia parte dos nossos participantes da pesquisa uma vez que era aluno do 4º ano, porém, frequenta a sala de atendimento educacional especializado da escola pesquisada.

Por meio dos instrumentos de triagem e seguindo o critério de análise pudemos identificar onze alunos com indicadores de AH/SD que foram indicados por seus professores.

Os instrumentos requerem a indicação pelo professor dos dois alunos que mais se destaquem em sua disciplina, conforme as características e indicadores descritos neles. Para confirmar os indicadores de AH/ SD o aluno deve ser nomeado em pelo menos 51% das questões, sendo assim, seguindo as orientações do manual utilizado para interpretação (Pérez; Freitas, 2016).

Na rede estadual, nos 9° anos de um total de 65 alunos, foram nomeados seis alunos que apresentam indicadores de AH/SD, caracterizando um percentual de 9,23% alunos com indicadores de AH/SD.

Na rede municipal, nos 5° anos, de um total de 55 alunos foram nomeados cinco alunos que apresentam indicadores de AH/SD, caracterizando um percentual de 9,09% de alunos com indicadores de AH/SD.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

| 111 A pesquisa que ora concluímos teve como objetivo geral analisar como ocorre a inclusão escolar de alunos com AH/SD de 5º e 9º ano do ensino fundamental em duas escolas do município de Carambeí e como o corpo docente e os gestores dessas escolas a percebem. Cumprimos esse objetivo verificando os documentos legais vigentes e utilizados nas duas escolas, além dos dados coletados por meio dos instrumentos.

Os resultados demonstraram que os alunos com AH/SD são invisíveis nas instituições de ensino pesquisadas e que, apesar de existirem legislações estaduais e federais que garantem ações para a identificação e atendimento educacional, há uma carência de estratégias efetivas voltadas a este público.

A invisibilidade é confirmada na formação dos professores, nas ações pedagógicas, nos documentos norteadores das instituições, nos registros educacionais e nas divergências referentes à forma de identificação destes alunos, assim como pela forte incidência de mitos e confusões entre os diferentes envolvidos.

Os instrumentos de triagem respondidos pelos professores nos permitiram encontrar em um total de 120 alunos, 11 alunos que apresentaram indicadores de AH/SD, caracterizando um percentual de 9,23%. Entretanto, somente oito deles tiveram os indicadores confirmados com os instrumentos individuais, visto a negativa dos pais a respondê-los. Mesmo assim, o percentual de 6,66% efetivamente identificados é extremamente significativo, se comparado a total ausência de alunos com AH/SD no Censo Escolar de Carambeí.

Consideramos, então, que a omissão e a negligencia ocorrida historicamente com os alunos com AH/SD ainda estão presentes no cotidiano escolar na rede de ensino pesquisada.

REFERÊNCIAS

Bardin, L. (2011) Ánálise de conteúdo. SP: Edições 70.

Bendelman, K. & Pérez, S. G.B. (2016) Altas Habilidades/superdotación: ¿Qué, ¿quién, cómo? Montevideo, Uruguay. Isadora Ediciones.

Brasil. Lei Nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF, 25 jun. 2014.

Brasil. Lei Nº 13.234, de 29 de dezembro de 2015. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a identificação, o cadastramento e o atendimento, na educação básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação. Brasília, DF, 29 dez. 2015.

Delou, C. M. C. C. (2007). Educação do aluno com Altas Habilidades/Superdotação: Legislação e Políticas educacionais para a inclusão. In: FLEITH, D.S. (Org.). A construção de práticas educacionais para alunos com Altas Habilidades/ Superdotação: volume 1: orientação a professores, Brasília: MEC, p. 25-39, Secretaria de Educação Especial.

Freitas, S. N.; Pérez, S. G. P. B. (2012). Altas Habilidades/Superdotação: atendimento especializado. 2. ABPEE, ed. Marília. Gardner, H. (1994). Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas.

Gardner, H. (1999). Inteligência: Um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva.

Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social - 6. ed. - São Paulo: Atlas. Gondim, S. M. G. (2003), Kind (2004); Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos.,

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Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Diretoria de Estatísticas Educacionais. Resultados do Censo de Educação Básica 2017. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/resultados-eresumos.

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Renzulli, J. S. (2014). A concepção de superdotação no modelo de três anéis: um modelo de desenvolvimento para promoção da produtividade criativa. In: Virgolim, A. M. R.; Konkiewitz, E. C. (Org.). Alta habilidades/Superdotação, inteligência e criatividade: uma visão multidisciplinar. Campinas SP: 2014a, p. 219-264. Papirus.

Renzulli, J. S. (2016) Short - Three-ring definitions.docx. Texto original do Prof. Renzulli enviado por e-mail para Susana Graciela Pérez Barrera Pérez em 03/05/2016 e traduzido pela mesma. Disponível em: https://www.facebook.com/

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Virgolim, A.M. R. (2007). Altas Habilidades/Superdotação: encorajando potenciais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial.

Fecha de Recepción: 03/09/2018 Fecha de Aceptación: 06/11/2018