A REALIDADE DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA: EXPRESSÕES DO CURSO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ESTUDANTES COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO DA UFU

9

82

5

1

5

1

2

1

16

UBERABA

UBERLÂNDIA

ARAGUARI

CAMPO FLORIDO

CANÁPOLIS

PRATA

CARNEIRINHO

CENTRALINA

ITUIUTABA

Participantes

DISTANCE EDUCATION REALITY: EXPRESSIONS OF THE COURSE ON SPECIALIZED EDUCATION SERVICES FOR HIGH ABLED/GIFTED STUDENTS OF UBERLANDIA FEDERAL UNIVERSITY

Marta Emidio Pereira 1

1 Mestre do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Estado, Políticas e Gestão da Educação, Universidade Federal de Uberlândia. martaemidio.emidio@gmail.com

2 Profa. Dra. da Universidade Federal de Uberlândia. Atua no Programa de Pós-graduação em Educação, Linha Estado, Política e Gestão da Educação. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial e Inclusão - Gepepes. lazara_cristina@hotmail.com

Lázara Cristina da Silva2

RESUMO

Este artigo é parte das análises da dissertação de mestrado e tem como objetivo analisar as contribuições que o “Curso de aperfeiçoamento de professores para Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação” na Universidade Federal de Uberlândia – UFU na Modalidade de Educação a Distância – EAD, propiciou aos professores-cursistas no tocante à construção de significados, de conhecimentos acerca da educação inclusiva e Altas habilidades/Superdotação. Os resultados dessa pesquisa podem contribuir com a comunidade escolar, pois, desvela e gera inquietação diante das políticas educacionais que debatem a formação continuada de professores na Modalidade Educação a Distância e suas contribuições para prática de educação inclusiva, que tem como objetivos atender, no contexto escolar, estudantes com diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e nesse viés as pessoas com Altas Habilidade/Superdotação.

Palavras-Chave: formação continuada, educação inclusiva, altas habilidades, superdotação.

ABSTRACT

This article is part of the analysis of a master's dissertation and aims to analyze the contributions that the “Teacher improvement course for Specialized Educational Services in High Abilities/Giftedness” at the Federal University of Uberlândia - UFU in Distance Education Modality – EAD, it provided the teacher-students with respect to the construction of meanings, knowledge about inclusive education and High Abilities/Giftedness. The results of this research can contribute to the school community, as it unveils and generates disquiet in the face of educational policies that debate the continuing education of teachers in Distance Education Modality and their contributions to the practice of inclusive education, which aims to meet, in the context schoolchildren, students with different learning styles and rhythms and in this bias people with High Abilities/Giftedness.

Keywords: continued education, inclusive education, high abilities, giftedness.

INTRODUÇAO

O presente artigo é um recorte da pesquisa de mestrado cuja temática abrange, a formação de professores para atender a especificidades de pessoas que apresentam Altas Habilidades/Superdotação no contexto da em sala de aula comum. Neste texto, o objetivo da pesquisa foi analisar as implicações e as contribuições na prática após a realização que o Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação, ofertado pela Universidade Federal de Uberlândia na Modalidade de Educação a Distância, proporcionou aos professores-cursistas das escolas municipais e estaduais da região do Triângulo Mineiro que realizaram o curso no ano de 2014. Nesse sentido, os procedimentos metodológicos que adotamos para o estudo empírico ocorreram a partir das análises dos dados coletados pelo formulário on-line elaborado na plataforma Google Docs e enviado aos participantes que concluíram o curso nesse período. Das 35 cidades que compõem a região do Triângulo Mineiro, 9 municípios participaram da formação de 2014, conforme demonstra o gráfico 1, a cidade de Uberlândia apresentou expressiva participação.

Gráfico 1

Demonstrativo da quantidade de professores-cursistas dos municípios do Triângulo Mineiro que se inscreveram no Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância - 2014

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O curso de aperfeiçoamento ofertado pela UFU em parceria com o MEC, nos possibilitou identificar um descompasso entre o compromisso e promoção de ações de responsabilidade institucional das Secretarias de Educação, sejam elas municipais ou estaduais, no envolvimento de uma política pública de formação continuada, e a oferta da formação e o chão da escola. Nesse sentido o Plano de Ações Articuladas – PAR, sendo uma estratégia de assistência técnica e financeira iniciada pelo Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, instituído pelo Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007, que consiste em oferecer aos entes federados um instrumento de diagnóstico e planejamento de política educacional, concebido para estruturar e gerenciar metas definidas de forma estratégica, contribuindo para a construção de um sistema nacional de ensino, oferecendo produtos e serviços o apoio financeiro para equipamentos e infraestrutura escolar e dentre outros a formação de profissionais.

Assim, a existência desse descompasso foi identificada a partir dos dados fornecidos pelos professores-cursistas. Do total, 66,7% declararam que, o ato de realizar o Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância, decorreu de iniciativa própria, quando deveria ser iniciativa das Secretarias de Educação e da gestão de cada instituição escolar, conforme os dados de cada município alinhados ao planejamento de política educacional no âmbito nacional.

DESENVOLVIMENTO

A organização didática do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado Altas Habilidades/Superdotação, no Ambiente Virtual de aprendizagem – AVA, foi demonstrado um alto nível de satisfação, pois os professores-cursistas avaliaram positivamente a forma como se estruturam os conteúdos na plataforma. Assim, procuramos identificar se os participantes apresentaram atitude ativa, apresentando independência no processo de aprendizagem. Segundo Oliveira (2012, p.23), “a transição de um

paradigma conservador que predominou nos últimos séculos para um novo paradigma emergente – que venha proporcionar a renovação de atitudes, valores e crenças exigidos neste início do século”. De acordo com o quadro 1 a seguir:

Quadro 1

Demonstrativo da Realidade dos professores-cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro MG, quanto à avaliação da estrutura do curso pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância 2014

Avaliação da estrutura do curso

28,6%

A estrutura do curso foi excelente, e atendeu e superou as minhas expectativas.

64,3%

A estrutura do curso teve qualidade, contribuiu com a minha aprendizagem, atendeu e superou as minhas expectativas, pois a composição e os conteúdos de cada módulo estavam bem conectados.

7,1%

A estrutura do curso teve pouca qualidade, não contribuiu muito com minha aprendizagem nem atendeu as minhas expectativas.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Na sequência, buscamos os dados referentes à ampliação de políticas de formação continuada por meio da Educação a Distância com viés na prática pedagógica, bem como a relação ao método de ensino e de aprendizagem, as consequências e a expectativa que essa modalidade de ensino representou na vida dos cursistas. Foi possível revelar, nesse aspecto, que os professores cursistas se dividem em opiniões equilibradas, conforme é apresentado no quadro 2.

Quadro 2

Demonstrativo da Realidade dos professores-cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro MG, quanto às contribuições da EaD relatadas pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância 2014.

Indicadores

Percentual

Nessa modalidade de ensino o profissional da educação terá um panorama com mais oportunidades de ensino e de aprendizagem.

14,3%

Nessa modalidade de ensino o profissional da educação terá um panorama com mais oportunidades de ensino e de aprendizagem e consequentemente a educação terá a qualidade que o governo divulga.

35,7%

Nessa modalidade de ensino o profissional da educação terá um panorama com mais oportunidades de ensino e de aprendizagem, de melhoria profissional, de inovação para educação. O Brasil pode diminuir seu déficit educacional e a desigualdade e consequentemente a educação terá a qualidade

35,7%

que o governo divulga.

Essa modalidade de ensino não irá resolver questões relativas aos métodos de ensino e aprendizagem.

14,3%

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Os dados do quadro indicam que a expressiva maioria, 85,3%, avalia de forma positiva a política de formação continuada na modalidade de Educação a Distância no tocante à garantia de mais oportunidades de ensino e de aprendizagem. Ainda, 35,7% acreditam que, com essa modalidade de ensino, será possível diminuir o déficit educacional e a desigualdade, consequentemente, a educação terá a qualidade que o governo divulga. Apesar disso, mesmo revelando que a Educação a Distância vem crescendo acentuadamente, conforme demonstram os dados do censo publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP (2013), nesse período, havia mais de novecentos mil alunos matriculados na educação superior na modalidade a distância no Brasil – outros professores-cursistas (14,3%) alegam que essa modalidade não irá resolver as questões relativas aos procedimentos de ensino e aprendizagem.

Apesar das descontinuidades e polêmicas, é possível assegurar que a Educação a Distância está se consolidando no Brasil e 100% dos professores-cursistas se mostraram favoráveis no que se refere às políticas articuladas pelo Ministério da Educação – MEC, junto aos estados e municípios, sobre a formação continuada na modalidade de Educação a Distância. Concordam que o Governo Federal deve continuar e ampliar os investimentos para essa modalidade de ensino, alegando que os professores terão mais liberdade para estudar, o que poderá contribuir e sustentar a prática pedagógica diária. Cabe destacar que 80% dos professores-cursistas alegaram que a maior motivação para que os profissionais da educação participassem de cursos na modalidade de Educação a Distância está na falta de tempo, sendo essa modalidade de ensino mais adequada por garantir maior flexibilidade quanto aos horários de participação, oportunizando - lhes o crescimento acadêmico e profissional.

Nesse sentido, analisamos as repostas dos professores-cursistas, alertando que, mesmo que essa modalidade de ensino seja uma política de reparação, que visa atender as legislações que orientam os estados e os municípios, não se pode deixar de perceber a importância da formação continuada na perspectiva da educação inclusiva; há que se reconhecer que elas causam mudanças no contexto escolar, ou seja, contribuem para a escola ressignificar seu espaço físico e pedagógico.

Portanto os posicionamentos, as discussões e as mudanças que os cursistas adquiriram com a realização do referido curso, mapeando as contribuições da formação continuada em relação às ações educacionais realizadas pelos professores-cursistas em seu contexto juntamente com os estudantes com Altas Habilidades/Superdotação.

Nesse sentido, buscamos identificar as mudanças no cotidiano escolar provocadas pelo curso. Quanto a esse quesito, 73,3% responderam ter adquirido atitudes de mudança de postura profissional, segurança no relacionamento com as pessoas com deficiência, ter mudado a forma de ver o

outro etc. Ainda, foi categorizado que, além dessas respostas, 46,7% admitiram mudanças no aspecto pedagógicos, tais como práticas em sala de aula, acessibilidade pedagógica etc. Os mesmos professores-cursistas, em um percentual de 66,7%, afirmam também que ampliaram as questões conceituais e a compreensão de inclusão de pessoas com Altas Habilidades/Superdotação e questões relacionadas ao Atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos Multifuncionais.

De acordo com as afirmações dos professores-cursistas, 86,7% admitiram que o curso fez diferença na sua participação na comunidade escolar e na comunidade social na qual está inserido ou convive (bairro). Em relação aos conhecimentos e concepções sobre Altas Habilidades/Superdotação, após realizar os estudos no Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado Altas Habilidades/Superdotação, os dados do gráfico 2 confirmam que, em sua realidade escolar, já convivem com estudantes que apresentam Altas Habilidades/Supertodação.

Nesse contexto, identificamos que os professores-cursistas possuem conhecimentos básicos que possibilitam a identificação, pois, em sua carreira docente, já tiveram experiência com esses estudantes. De acordo com o levantamento dos dados, 86,6% afirmaram conviver com pessoas com Altas Habilidades/Superdotação na sala de aula, na escola, no meio familiar, com os parentes ou com o filho.

Gráfico 2

Demonstrativo da Realidade dos professores cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro - MG, quanto à convivência com pessoas com AH/SD pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a Distância 2014.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

E, a partir desses dados, reafirmamos a necessidade de formação continuada para professores, pois 46% convivem com estudante com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação em sala de aula, espaço onde o professor conhece o perfil de cada estudante, pois se relaciona e interage no cotidiano. Quando a convivência está atrelada a informações e conhecimentos sobre Altas Habilidades/Superdotação, além da identificação, o

[...] reconhecimento das características do aluno é primordial no estabelecimento de estratégias de identificação, inclusão em atendimento especializado e em sala de aula e implementação de efetivos mecanismos institucionais e governamentais que garantam a qualidade e continuidade de apoio aos alunos superdotados, por meio da capacitação de professores, adaptações curriculares significativas e a criação de novos espaços inclusivos que abarquem os mais variados estilos de aprendizagem. (Ourofino, 2007, p. 50)

Salientamos que o contexto familiar é outro espaço onde o professor poderá auxiliar seus filhos ou parentes, pois

[...] o profissional da educação tem conhecimento sobre esse perfil familiar e sobre a importância do contexto familiar no desenvolvimento das características do aluno, é possível ampliar o olhar sobre o fenômeno da superdotação e traçar estratégias de atendimento mais adequadas e eficazes. (Aspesi, 2007, p. 40)

Acreditamos no diferencial desses professores-cursistas que declaram uma prévia convivência com estudantes ou pessoas com Altas Habilidades/Superdotação, desencadeando nesse aspecto uma grande valorização para essa formação, conforme os relatos dos professores-cursistas ao afirmarem ter adquirido novos conhecimentos para orientar os familiares de alunos e professores.

O quadro 3 apresenta como ficou a situação do professor-cursista em relação aos conhecimentos e concepções acerca das pessoas com Altas Habilidades/Superdotação depois de realizar o curso de formação.

Quadro 3

Demonstrativo da Realidade dos professores cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro MG, quanto aos conhecimentos adquiridos sobre as concepções de Altas Habilidades/Superdotação pelos egressos pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a Distância 2014

%

Conhecimentos adquiridos sobre as concepções de Altas Habilidades/Superdotação

13,3%

Não tinha nenhuma noção sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso me ajudaram a ampliar os conhecimentos sobre o tema.

40%

Tinha poucas noções sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso me ajudaram a ampliar os conhecimentos sobre o tema.

26,7%

Tinha algumas noções sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso me ajudaram a ampliar os conhecimentos sobre o tema.

20%

Tinha muitas noções sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso me ajudaram a ampliar os conhecimentos sobre o tema.

0%

Não tinha nenhuma ideia sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, e com os estudos e atividades realizadas no curso não me ampliaram os conhecimentos sobre o tema.

0%

Tinha poucas noções sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso não me ampliaram os conhecimentos sobre o tema.

0%

Tinha algumas noções sobre o assunto: assunto Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso não me ampliaram os conhecimentos sobre o tema.

0%

Tinha algumas noções sobre o assunto: assunto Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso não me ampliaram os conhecimentos sobre o tema.

0%

Tinha muitas noções sobre o assunto: Altas Habilidades/Superdotação, mas os estudos e atividades realizadas no curso não me ampliaram os conhecimentos sobre o tema.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Nessa perspectiva, identificamos que, para os professores-cursistas, tendo ou não noções sobre a superdotação, o curso ampliou os conhecimentos sobre esse assunto, pois 86,7% declararam que a estrutura do curso atendeu e superou as expectativas e avaliaram que a composição dos conteúdos de cada módulo tem um rico embasamento teórico. E, para se chegar a bons exemplos de desempenho, são indispensáveis algumas condições próprias do estudante, “como capacidade, vontade, disponibilidade para receber, buscar, desejar o desenvolvimento, e também disciplina, dedicação, esforço próprio, como variáveis intrapessoais que garantem melhoria progressiva” (Guenther, 2010, p. 340).

Assim, após a realização do curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação, identificamos que a confiabilidade para realizar o Atendimento Educacional Especializado-AEE suplementar com estudantes com Altas Habilidades/Superdotação ficou acima de 50%, conforme apresentado na tabela 1.

Tabela 1

Demonstrativo da Realidade dos professores-cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro MG, quanto à segurança para realizar Atendimento Educacional Especializado suplementar, pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância 2014.

Tem segurança para realizar Atendimento Educacional Especializado suplementar

%

Sim

53,3%

Ainda não, precisa de mais informações e mais estudos.

46,7%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A complexidade, os desafios e as dificuldades que os professores cursistas relataram, no que se refere ao atendimento às especificidades desses estudantes, foram expressivos, presentes em 46,7% das respostas, comprovando mais uma vez a necessidade de investimentos para formação nessa área. Em seus estudos (Alencar; Martins, 2011, p. 40) pesquisaram que

o perfil do “professor ideal é aquele que apresenta uma combinação de características pessoais/sociais, qualidades intelectuais e domínio de práticas pedagógicas”. Eles sinalizam, ainda, que os perfis pessoais e sociais permitem aos profissionais da educação apresentarem “mais facilidade para perceber as dimensões cognitivas, sociais, emocionais, bem como as necessidades do aluno” (Alencar; Martins, 2011, p. 40). Em meio às complexidades e aos desafios, elencamos as condições de trabalho e os métodos utilizados pelos professores como componente basilar para a concretização da educação inclusiva; “em suma, é sobre os ombros deles que repousa, no fim das contas, a missão educativa da escola” Tardif (2002, p. 228).

Após a realização do curso, os dados informam que 86,6% conseguiram identificar pessoas com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, fato ocorrido com mais frequência no contexto da sala de aula, na escola e entre e os familiares, conforme demonstrado na tabela 2.

Tabela 2

Demonstrativo da Realidade dos professores-cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro - MG, quanto à quantidade de alunos com Altas Habilidades/Superdotação, pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância 2014

Quantidade de alunos com Altas Habilidades/Superdotação

% de professores

1 aluno

30,8%

2 alunos

15,4%

3 alunos

7,7%

4 alunos

23,8%

Não tem alunos

23,8%

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

É satisfatório perceber que o professor-cursista, em sua maioria, tem contato com pessoas com Altas Habilidades/Superdotação. Nesse sentido, a invisibilidade desses alunos, aos poucos, está sendo vencida, pois esses professores assumirão um comportamento em que pode haver mudanças atitudinais e beneficiar esses estudantes que possuem especificidades na aprendizagem.

Esses dados coadunam com os revelados nos estudos de Neves-Pereira (2007, p. 27) em que o professor “ao possuir domínio teórico, facilita sua prática e favorece uma mediação mais rica em sala de aula, o que facilita a promoção da criatividade”. Essa realidade, mesmo que ainda tímida, representa muito para aqueles que necessitam de um olhar e, principalmente no contexto escolar, pois a identificação dos estudantes com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação vem crescendo no país nessa última década, de acordo com o gráfico 4.

O MEC atribui esse crescimento ao “investimento na formação de professores, e o trabalho pelos NAAHS”. Que em 2005, a SEESP/MEC - Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, implantou em cada estado do Brasil a fim de formar professores e atender esses estudantes indicadores de Altas Habilidades/Superdotação e familiares. Essa informação é

procedente, pois, desde o período de implementação dos NAAHS, houve maior investimento nas produções de fascículos, maior interesse em pesquisas de mestrado e doutorado e teve início um movimento por parte das associações para garantir nos dispositivos legais os direitos do atendimento das especificidades desses estudantes.

Gráfico 4

Demonstrativo do quantitativo de Superdotados no Brasil – Números de crianças, segundo o MEC 2014.

Fonte: MEC/Inep/Deed (2014).

Contudo, Pérez (2014), em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, declarou que ainda considera insuficiente o número de estudantes identificados e afirma que “muitos superdotados são perdidos porque há falta de profissionais aptos para o seu reconhecimento”. Essa perspectiva revela que o problema e as dificuldades para identificação desses alunos envolvem a garantia de seus direitos. Nesse sentido, conforme (Chagas & Fleith, 2010, p. 100), “acredita-se ser necessária uma formação adequada para que o professor saiba identificar o aluno com AH/SD de forma correta, sem preconcepções pautadas em mitos a respeito dele”.

Salientamos, que “ainda são raros os cursos de licenciatura que oferecem disciplinas voltadas às especificidades de alunos com necessidades educativas especiais”, afirma Barreto (2010, p. 85). A efetivação esperada pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de acordo com (Pérez & Freitas, 2011, p. 122), busca “uma normatização mais eficiente e a tão necessária articulação intersetorial na implementação das políticas públicas, da educação infantil ao ensino superior”. Nesse sentido é necessário comtemplar nas políticas públicas a inserção de currículos nos cursos das instituições de ensino superior, as Altas Habilidades/Superdotação.

De acordo com Guenther (2011, p.19) tendo em vista o alunado com características de AH/SD, expõe que “o objetivo educacional é firmado no compromisso, e não somente intenção, de desenvolver o potencial dos alunos identificados, por vias educacionais solidas sólidas e defensáveis e o máximo de produtividade e qualidade”. Alinhado a essas informações e analisando as contribuições expostas pelos professores-cursistas, observamos nos discursos ditos, contribuições que influenciaram na prática pedagógica, bem como nas

estratégias de aprendizagem dos estudantes numa perspectiva inclusiva no contexto de uma sala de aula heterogênea. Nessa perspectiva, 64,3%, conforme demonstrado no gráfico 5 afirmaram trabalhar na perspectiva de grupo, como uma estratégia inclusiva.

Gráfico 5

Demonstrativo da Realidade dos professores-cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro - MG, quanto às estratégias de aprendizagem que utiliza após a formação pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a distância 2014

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Nessa análise, compreendemos que os professores-cursistas agregaram a sua prática diária estratégias de aprendizagem, pois 64% responderam que estão utilizando, após a formação, o trabalho em grupo como estratégia de aprendizagem. Nesse sentido, voltamos ao fundamento da prática inclusiva, que, de acordo com o discurso, vem alinhado a diversificar a prática pedagógica onde para todos os alunos tem acesso ao conhecimento. Segundo Pan (2008, p. 134), na escola a educação inclusiva “requer diferenciação do trabalho de sala de aula dentro do programa curricular comum, ajudando, contudo, a escola a responder às necessidades de todos os alunos”. Dessa maneira, adotar decisões e colocar os estudantes em grupos e garantir a heterogeneidade entre os participantes, ou seja, envolve na metodologia, “e a organização didática das aulas, podem contemplar trabalhos em grupo que despertem valores de cooperação e respeito e que possibilitam diversificadas formas de expressão, e não apenas a expressão oral e escrita” Pan (2008, p. 135).

Nessa perspectiva, analisamos que 21,4% dos professores-cursistas relataram que utilizam como prática pedagógica a aula dialógica. Essa estratégia é caracterizada pela apresentação dos conteúdos, de forma dialogada, levando os estudantes a participar ativamente do processo de ensino e aprendizagem. Por isso,

[...] a relação dialógica preconizada por Freire (1982) deve ser revisitada por todos aqueles que fazem educação e que buscam a inclusão como arma de transformação da sociedade que temos, para aquela que queremos, pois, o referido autor é e sempre será um exemplo para a

educação (inclusiva) brasileira porque calca no verdadeiro diálogo a relação interativa, pautada pelo compromisso político de seus pares. (Brandão, 2002, p. 5)

Analisamos que a seleção de procedimentos pedagógicos para atender a uma perspectiva inclusiva requer do professor experiências adquiridas e vivenciadas ao longo da sua carreira, ou a partir dos significados impostos à prática, à sua prática, bem como aos saberes adquiridos por meio da relação no processo formativo. E assim conforme (Guimarães; Ourofino, 2007. p.60) ter “atitude de compartilhar seus conhecimentos, ideias e concepções teóricas que fundamentam suas práticas” é fundamental. Nessa perspectiva, dentre os aspectos do curso utilizados na vida cotidiana dos professores-cursistas, o quadro 4 apresenta aspectos do curso utilizados em sua vida cotidiana.

Quadro 4

Demonstrativo da Realidade dos professores cursistas das redes estadual e municipal da região do Triângulo Mineiro - MG, quanto aos aspectos do curso utilizados em sua vida cotidiana pelos egressos do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado em Altas Habilidades/Superdotação na Modalidade de Educação a Distância 2014

Aspectos do curso utilizados em sua vida cotidiana

1-Atitudes de mudança na postura profissional, segurança no relacionamento com as pessoas com deficiência, e mudou a forma de ver o outro;

2-Agregou práticas em sala de aula, acessibilidade pedagógica;

3-Ampliou as bases conceituais e melhor compreensão de Inclusão de pessoas com Altas Habilidades/Superdotação e do Atendimento Educacional Especializado - AEE.

Utilizam 3 aspectos do curso no seu cotidiano

46,67%

Utilizam 2 aspectos do curso no seu cotidiano

33,33%

Utilizam 1 aspecto do curso no seu cotidiano

20%

Não utilizam nenhum aspecto do curso

0%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Os aspectos do quadro 4 demonstram que a realização do curso proporcionou aos egressos momentos de reflexão que sinalizam mudanças de paradigmas, pois possibilitaram ampliar as bases conceituais no que se refere à Inclusão e às Altas Habilidades/Superdotação. Assim, agregaram em sua prática pedagógica, tornando mais acessível o conhecimento, além de mudanças atitudinais, ou seja, os docentes admitem mudança na postura profissional e segurança em se relacionar com pessoas com deficiências.

Essas mudanças promovem, portanto, um rompimento fundamental, difícil de ser praticado, mas indispensável para o processo da educação inclusiva. Quando nos referimos ao paradigma da educação inclusiva, há nesse meio inquietações entre os profissionais da educação. Ainda que a nossa pesquisa esteja com a atenção voltada para estudantes com Altas Habilidades/Superdotação, percebemos que o processo de inclusão não

precisa se limitar a eles, deve-se buscar e alcançar as atitudes preconceituosas e discriminatórias referentes a qualquer grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que a razão desta pesquisa foi determinada perante o contexto atual de criação de políticas públicas que influenciam as políticas educacionais de formação de continuada de professores na Modalidade de Educação a Distância em uma perspectiva da educação inclusiva, envolvendo, nesse contexto, análises das contribuições da formação no que diz respeito à educação de estudantes que apresentam Altas Habilidades/Superdotação. Nesse sentido, consideramos que a pesquisa revelou a importância de colocar em pauta o movimento das políticas públicas e as contribuições para as políticas educacionais, fato que se mostrou fundamental na organização de cursos para formação de professores, refletindo na atual circunstância política em que está inserida a educação.

Consideramos satisfatório que 77,7% dos professores cursistas contam com estudantes com Altas Habilidades/Superdotação em suas turmas, confirmando nesse dado o interesse pela formação continuada na busca de conhecimento. Para Santos (2007, p. 43), “a formação continuada é vista, portanto, como importante condição de mudança das práticas pedagógicas”. Desse modo, esse fato nos permite avaliar que a invisibilidade ou a dificuldade de identificação dos estudantes com AH/SD estão acompanhadas de compreensões equivocadas consequentes da falta de discussão desse assunto no contexto das escolas e nos cursos de formação. Nessa perspectiva a maioria dos professores declara que procura formação quando se depara com o desafio de realizar atendimento e não possuem nenhum conhecimento; outro pequeno grupo de professores tenta se “preparar”, mesmo que ainda não tenham esses estudantes como alunos seus.

Contudo foi revelado a partir dos dados analisados, que 46,6% dos professores cursistas ainda necessitam de mais formação para se sentirem confiantes e realizarem o Atendimento Educacional Especializado Suplementar aos estudantes com Altas Habilidades/Superdotação, mesmo que tenham já colocado em prática algumas das estratégias de aprendizagem e as estejam utilizando após a formação, como o trabalho em grupo e aulas mais interativas.

REFERÊNCIAS

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Barreto, M. A. S. C. (2010). A formação do professor na perspectiva inclusiva: diálogos entre a educação especial e a educação do campo. IN: M. A. S. C. Barreto; I. O. R. Martins (Org.) Diversidade e inclusão na educação do campo: povos, territórios, movimentos sociais, saberes da terra, sustentabilidade. UFES, p.81-94.

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Chagas, J. F.; Maia.Pinto, R. R.; Pereira, V. L. P. (2007). Modelo de Enriquecimento Escolar. In: D. S. Fleith (Org). A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: Volume 2: Atividades de Estimulação de Alunos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial.

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Recibido: 19/05/2020

Aceptado: 10/08/2020