Teoria do solucionismo tecnológico: perspectivas educacionais pós-covid-19

 

Theory of technological solutionism: post-covid-19 educational perspectives

 

 

Recibido: 24/01/2022

Aprobado: 14/03/2022

Junior Aparecido Cardoso Peres[1]

 

 

Resumo

O presente artigo teve por objetivo Geral apresentar a tecnologia como ação presente na sociedade e com o advento da Pandemia do Covid-19 fez com que ela florescesse e tomasse algumas proporções alterando o comportamento social, desta forma, o escrito obteve por objetivo específico a concepção da Teoria do Solucionismo Tecnológico sob os olhares de Morozov no meio educacional. No decorrer do artigo foi tratado que muitos profissionais ainda não se enxergam como tecnológicos, pressuposto visto como um problema, pois com o advento da Pandemia do Covid-19 grande parte dos profissionais (principalmente os da educação) e empresas precisaram de reinventar diante desta realidade e essa reinvenção se deu com a utilização dos meios digitais. Com as mudanças que ocorreram de forma brusca e truculenta, o macro sistema educativo precisou trabalhar a fim de cumprir com as demandas financeiras e sociais, fazendo com que a Educação a Distância (EaD) tomasse o papel da presencialidade do docente em sala de aula, este sendo outro problema tratado no decorrer do escrito. Em relação à metodologia de pesquisa não houve uma completa investigação qualitativa, premissa na qual pode ser desenvolvida em outros trabalhos, sendo utilizados documentos e literários para justificar os argumentos apresentados. Embasado nesses pressupostos o artigo se justificou e se destinou aos profissionais da educação, tendo por resultado que a tecnologia sempre fez parte da vida do homem e dos profissionais, principalmente os da educação, e estes precisam se ver tecnológicos e digitais, enxergando o solucionismo tecnológico como um suporte.

 

Palavras-chave: tecnologia, educação, pandemia, solucionismo tecnológico.

 

Abstract

The present article had the general objective to present technology as an action present in society and with the advent of the Covid-19 Pandemic made it flourish and take on some proportions changing social behavior, in this way, the writing obtained as a specific objective the conception of the Theory of Technological Solutionism under the eyes of Morozov in the educational environment. In the course of the article, it was discussed that many professionals still do not see themselves as technological, an assumption seen as a problem, because with the advent of the Covid-19 Pandemic, most professionals (especially those in education) and companies needed to reinvent themselves in the face of this reality. and this reinvention took place with the use of digital media. With the changes that occurred in an abrupt and truculent way, the macro education system had to work in order to comply with the financial and social demands, making Distance Education (DE) take the role of the presence of the teacher in the classroom, this being another problem addressed in the course of writing. Regarding the research methodology, there was not a complete qualitative investigation, a premise on which it can be developed in other works, using documents and literature to justify the arguments presented. Based on these assumptions, the article was justified and aimed at education professionals, with the result that technology has always been part of the life of man and professionals, especially those in education, and they need to see themselves as technological and digital, seeing technological solutionism as a support.

 

Keywords: technology, education, pandemic, technological solutionism.

 

Introdução

 

A teoria do Solucionismo Tecnológico foi desenvolvida por Evgeny Morozov, apresentando uma concepção de que as necessidades sociais podem ser solucionadas através do uso das tecnologias, uma vez que o homem é tecnológico. O autor relata que as tecnologias em sua essência não são boas e nem ruins, dependendo da forma na qual são utilizadas; elas estão para servir o homem quando estes as utilizam com sabedoria e maestria, sendo manuseadas e utilizadas em todos os seguimentos como no social, no econômico, nos princípios morais, políticos e demais que aflijam a sociedade e tais podem servir de soluções paliativas para um determinado momento.  

Esta propositura é mais que uma teoria, é uma concepção e uma postura crítica acerca da realidade tecnológica, olhando com desconfiança e ao mesmo tempo como os recursos tecnológicos e digitais podem auxiliar o homem e a sociedade nas respostas que demandam o menor tempo possível, solucionando os problemas da humanidade e as complexidades com suas dimensões, devido a tais premissas, o autor destaca em forma de crítica e alusão que os problemas básicos da humanidade como carências afetivas, depressões e relações interpessoais podem ser solucionados com os cibersistemas, espaço virtual no qual se encontram as redes sociais.

Em forma de apreciação e crítica, o autor descreve que problemas sociais  como a fome pode ser solucionada com a tecnologia agrícola, a pobreza pode ser solucionada ou amenizada com a tecnologia financeira, os crimes com a tecnologia de vigilância, a depressão pode ser amenizada com as tecnologias que envolvem as drogas medicamentosas ou as redes sociais, e os preceitos educacionais com as tecnologias da educação; assim, Morozov (2020) expõe que os problemas e as mazelas sociais podem ser amenizadas com meios e suportes tecnicistas, dede que utilizados adequadamente.

Morozov nunca esteve contra as tecnologias, apenas a interpreta com certa desconfiança e busca entender como ela tomou espaço no meio social de forma desmedida, principalmente em tempos de Pandemia. Ele é a favor e, com sua escrita descontraída e crítica, apresenta que os meios digitais estão presentes em todos os âmbitos e segmentos como o social na organizando da vida de cada indivíduo, a política, econômica e a educativa, essa na qual nos atemos com mais veemência, mas, em suas descrições o autor sempre se manteve integro e ético diante de muitas afirmativas, mantendo sua criticidade imparcial e valorizando o uso das tecnologias, mas sempre com uma concepção analítica.  

Diante deste pressuposto, foi possível perceber que as tecnologias estão em desenvolvimento e não há como desmerecer suas valias, pois os suportes e os meios tecnicistas estão em meio à sociedade e esta os vivenciam, muitas vezes sem perceber que estão inseridos em mundo tecnológico, pois, segundo Peres (2021), “a tecnologia se caracteriza como toda ação que o homem desenvolve para se adequar, melhorar e facilitar a sua existência no meio ao qual está inserido”. (p.29).

Peres (2021) ainda relata que a tecnologia está se desenvolvendo de forma desmedida e o digitalismo ocupa um espaço de ascese, levando uma nova versão de desenvolvimento humano, porém, nem todos os indivíduos são possuintes e não estão diante do apogeu evolucionista do digitalismo, se inserindo no rol dos que estão em oposição aos meios tecnológicos digitais, denotando, assim, que o Solucionismo Tecnológico não supre todas as necessidades de uma população que está sem o acesso aos meios tecnológicos digitais.

Estruturados nesta forma de pensar, percebemos que o pensamento de Morozov é rica e expressa uma dupla valência, isto é, apesenta o lado positivo e negativo das tecnologias, como citado na obra de Peres (2021) na qual relata que nem todos os indivíduos possuem acesso aos meios digitais, ficando o indivíduo a mercê da ignorância quando se trata da inclusão tecnológica, principalmente em uma época pandêmica na qual os sistemas digitais e tecnológicos passaram a fazer parte de grande parte do mundo, principalmente do sistema educativo.

Os ideais da teoria do solucionismo tecnológico se tornaram mais evidentes com o advento da Pandemia do Covid-19, às quais a utilização dos meios tecnológicos se tornou mais contundentes, uma vez que as empresas e os sistemas educativos não puderam se estagnar diante dos isolamentos sociais para a mitigação dos vírus, e o uso das tecnologias se tornou evidente e mais clara, levando estes segmentos a aderirem uma nova visão de mundo e assumirem a metodologia de trabalho a distância, este que há anos vem se instalando no meio social.

Uma versão aflorada do solucionismo se apresentou no meio educacional, levando os atores sociais do sistema educativo a se aperfeiçoarem nas tecnologias digitais para não ficarem obsoletos e atenderem as demandas necessárias diante deste Novo Normal, ou seja, os docentes e demais profissionais foram obrigados a se engendrar nas veredas das tecnologias para dar continuidade às atividades pedagógicas, mas de forma remota, haja vista que esta modalidade e metodologia de ensino não são recentes, mas não se encontrava com tamanha força, como se deu  com a gênese da Pandemia do Covid-19.

Assim, o artigo teve por objetivo Geral apresentar a tecnologia como uma ação presente na sociedade, expondo que com o advento da Pandemia do Covid-19 o florescer de novas perspectivas pedagógicas e sociais tomaram novas medidas e proporções alterando o comportamento da sociedade, não apenas no sentido Micro, mas no Macro, ou seja, o mundo precisou se adaptar às novas realidades. Assim, o escrito teve por objetivo específico adolescer a concepção da Teoria do Solucionismo Tecnológico sob os olhares de Morozov tecendo críticas consistentes no meio social e educacional, esta última a base do nosso escrito, apresentando que o solucionismo tecnológico é mais que uma simples teoria, é uma postura crítica acerca de uma realidade que a cada dia se desenvolve, devendo os indivíduos possuírem olhares neutros e apartidários, buscando respostas aos problemas da sociedade em todas as suas dimensões com os auxílios tecnológicos.

O problema do artigo se pautou em dois pontos cruciais, sendo o primeiro que o homem e muitos profissionais não se enxergam tecnológicos e em segundo lugar a problemática se estruturou nas mudanças que a sociedade mundial passou, principalmente a brasileira em relação à Pandemia do Covid-19, ocorridas de forma brusca e truculenta (principalmente na educação) precisando trabalhar e cumprir com as demandas financeiras e sociais fazendo com que a Educação a Distância (EaD) tomasse e tivesse um papel de extrema importância, o da presencialidade do docente em sala de aula.

Na metodologia do trabalho não houve uma completa investigação qualitativa, premissa na qual pode ser desenvolvida em outros trabalhos, mas foram utilizados documentos e literários da educação, bem como várias obras de Morozov, ator principal deste artigo a fim de validar os argumentos apresentados. Assim, embasado nesses pressupostos o artigo se justificou e se destinou aos profissionais da educação, expondo como resultados que a tecnologia sempre fez parte da vida do homem e dos profissionais, principalmente nos da educação, e que estes atores precisaram e precisam se ver como seres tecnológicos e digitais, enxergando o solucionismo tecnológico com olhares críticos e apartidários.  

Embasado nestas premissas a Teoria do Solucionismo Tecnológico: Perspectivas Educacionais Pós Covid-19, buscou apresentar como esta teoria se comportou e comporta diante da conjuntura educativa, levando a promoção desta ação e seu crescimento diante da realidade na qual a Educação a Distância (EaD) está assumindo;  o EaD está adquirindo um papel de destaque e se desenvolvendo de forma ensurdecedora, haja vista que sua existência não se deu com o advento da pandemia, mas a partir dela foi possível perceber uma aceleração ensurdecedora.

Os Objetivos, o Problema e a Justificativos devidamente expostos e instaurados, o artigo se fragmentou em quatro partes se estruturando da seguinte maneira: dois tópicos de marco teórico, no qual a prima escrita se pautou em uma indagação acerca da pandemia do Covid-19 e em seguida a educação mediada pela Teoria do Solucionismo tecnológico; para que a estrutura do escrito se finalizasse foram apresentados os Materiais e Métodos e as Considerações Finais apresentando o resultado obtido com a pesquisa.    

Assim, a riqueza do pensamento de Morozov, expressada em duas valências nas quais expunham os prós e os contras da tecnologia na sociedade mundial leva o homem a uma reflexão sobre sua conduta e seu comportamento acerca deste Novo Normal que se instaura, e como se portar diante destes pressupostos, pois se torna difícil delegar às tecnologias as soluções necessárias nas quais a humanidade precisa, uma vez que o homem possui grande responsabilidade em relação ao seu desenvolvimento ou à sua degradação.


 

Marco teórico

 

Para onde a pandemia nos levará?

 

A Pandemia do Covid-19 se apresentou ao mundo de forma brusca e truculenta, se alastrando desmedidamente pela sociedade e agenciando o medo e a insegurança em todas as suas instâncias como na vida salutar, pessoal e profissional de cada indivíduo, além de promover uma mudança repentina no cotidiano da sociedade, levando-as a refletirem sobre suas ações pessoais e laborais. (Unesco, 2020).

Segundo a Unesco (2020)

A Pandemia do Covid-19 levou o mundo a refletir sobre suas ações e manifestações, proporcionando novas perspectivas sociais e laborais, valorizando a tecnologia e tirando as pessoas de suas zonas de conforto e estagnação. Esta afirmação se corrobora ao nos depararmos com muitos profissionais que se viram diante de uma nova realidade, levando-os a se familiarizarem com os meios tecnológicos e digitais para manterem seus cargos nas empresas e levando grande parte das instituições privadas a investirem nos meios midiáticos e tecnológicos para suprirem suas necessidades mercadológicas, pois a sociedade ficou confinada (p. 5).

É encontrado em Morozov (2016) que “o mundo ia passar por incertezas em relação às práticas humanas e que pequenas mudanças seriam precisas e se  apresentariam com modificações levando os homens e refletirem sobre seus atos, podendo estes causar profundas transformações em suas condutas” (p.19). Esta afirmação foi ao encontro da gênese da Pandemia do Covid-19 com seu auge em 2019, na qual apresentou uma sociedade que passou e continua passando por transformações que ocorreram em todos os segmentos sociais, precisando de  adaptações nas quais indivíduos precisaram se adequar para se manterem inseridos em suas atividades e buscarem uma nova normalidade, esta que foi se estruturando aos poucos.

Esposito (2021) relatou que é inegável o desastre que a Pandemia do Covid-19 deixou e continua causando no mundo com as mortes e sequelas emocionais deixadas e que ainda continua deixando na sociedade, mas não se pode negar que tal desastre causou e proporcionou um grande impacto e avanço no uso das tecnologias digitais e no mercado de trabalho futuro, pois forçou muitos profissionais a saírem do comodismo e buscarem formações, se adaptando às novas realidades, estas pelas quais se encontram diante dos processos midiáticos, haja vista que este preceito sempre existiu, mas com a pandemia do Covid-19 obrigou muitos colaboradores, empresas  e o próprio sistema educativo a se lançarem nos mercados digitais.

Não se pode esquecer que estas alterações tecnológicas se deram em países e sociedades que possuem acesso às tecnologias digitais. Muitas sociedades e regiões ainda não possuem acesso à internet ou aparelhos digitais, causando e desenvolvendo uma lacuna social e na democratização das atividades em tempos de pandemia, bem como continuar com as atividades laborais e educacionais estagnados devido o distanciamento social, ficando bloqueadas os acessos físicos para que o avanço do vírus não se propagasse, desta forma, a economia destas localidades ficaram mais abaladas e fragilizadas, levando tais espaços a desenvolverem maiores carências sociais como na comunicação, na carência humana e afetiva, trabalhista, salutar e na educacional (Unesco, 2020).  

Segundo Lazzarato (2020) a teoria do solucionismo tecnológico se manteve como uma forma de auxiliar a solução de alguns problemas mais pontuais da sociedade, pois diante da conjuntura estrutural e social de uma situação pandêmica, convencionou-se que houvesse uma solução imediata a alguns problemas, “forçando a capacitação profissional de muitos cidadãos e obrigando empresas estagnadas nas suas receitas a buscarem novos meios de atingir seu público, a fim de não se inserirem no Darwinismo Social, este no qual mantiveram apenas as empresas” (p. 11) e os colaboradores das empresas adaptados a um novo conceito, este utilizado por muitos na sociedade como o Novo Normal[2].

Morozov (2020) em sua obra A Cidade Inteligente faz uma apologia às questão das concepções de desenvolvimento social, ao qual podemos traçar um paralelo com a realidade pandêmica e social do inicio da pandemia com a atual, na qual relata que,

Diante da “revolução digital” e do novo mundo dos dados, descritos por essa narrativa, as cidades podem agora se tornar mais limpas, seguras e funcionais por meio do uso de sensores, dispositivos responsivos e microcomputadores capazes de se comunicar pela internet. Nesse cenário de “Internet das Coisas”, bueiros seriam acoplados com sensores capazes de detectar níveis de chuva e de capacidade de escoamento. Sistemas de iluminação seriam responsivos à presença humana, promovendo eficiência energética e racionalização de recursos. Lixeiras poderiam identificar o tipo de material a ser reciclado, reprogramando sistemas de coleta seletiva. Estações de metrô poderiam contar com câmeras para detectar a posse de arma por passageiros, além de situações de perigo. Para cada uma dessas inovações, claro, governos podem contar com empresas de tecnologia (pp. 9-10).

Diante destes argumentos e da realidade na qual a sociedade mundial passou, Morozov (2020) destacou o uso das altas tecnologias nas cidades para facilitar a vida do homem; embasados em sua fala é possível analisar que com a Pandemia as cidades ficarão mais inteligentes, ou seja, a tecnologia fez parte da vida do homem sem que ele mesmo percebesse e a sociedade passou a viver em uma redoma tecnológica.

A pandemia do Covid-19 fez com o homem buscasse novas formas de viver, de se comunicar, de cuidar da saúde, de trabalhar e de estudar. A Cidade inteligente de Morozov (2020) passou a fazer parte de um ideário humano, uma vez que a pandemia levou o homem a se isolar dos demais semelhantes, acreditando que com as tecnologias não precisassem do outro, apenas de uma máquina com sinais de internet ou satélite, porém, não se pode esquecer que nem todas as sociedades são dotadas de tecnologias digitais. 

A realidade pandêmica fez com que houvesse uma intima ligação da vida real com a vida cibernética (Morozov, 2016) e as tecnologias digitais passou a ser um aporte para o desenvolvimento do homem diante das multas tragédias que a Pandemia do Covid-19 proporcionou e proporciona, levando a amenização das atividades e dos sofrimentos com a utilização dos meios e suportes tecnológicos. Porém, tais premissas não podem ser administradas sozinhas; o auxílio dos governos e do próprio ser humano, admoestando cada vez mais o Novo Normal que se instala na meio social é de grande valia. 

Diante desta analogia, englobando a realidade pandêmica em nível mundial, traçando um paralelo com as Cidades Inteligentes de Morozov (2020), é possível entender que a revolução digital é uma ação na qual levam os atores sociais a saírem de suas zonas de conforto, pois segundo Cepal (2020), a “pandemia fez com que tais indivíduos buscassem novas metodologias de atuações profissionais e sociais a fim de não ficarem obsoletos diante da realidade que se encontravam, não correndo riscos de serem trocados por outros que se adaptaram à nova realidade” (p. 18).

Com a turbamulta ocasionada pela Pandemia do Covid-19 em todos os setores sociais e segmentos comerciais, surgiu uma gama de reações e uma superabundância de problemas, acarretando uma dialética desenfreada de profusões sociais. Morozov (2018) destaca que “sem muito no que pensar para solucionar os problemas presentes, os meios tecnológicos e digitais passaram a serem vistos como elementos que proporcionariam os recursos tão almejados” (p. 44), mas de forma paliativa, pois alguns problemas antes destes solutos surgiram e surgem em forma de questionamentos a fim de entender e como fazer para atender as demandas diante do frenesi que assola a presente sociedade, e que as tecnologias servem de suportes para amenizar alguns problemas existentes na sociedade (Peres, 2021), haja vista, que o homem é dotado de capacidades intelectivas capazes de administrar problemas nas quais uma máquina não seria capaz.   

Diante desta perspectiva Lazzarato (2020) e Morozov (2020) comungam dos mesmos ideais quando relatam que as tecnologias e o digitalismo servem como suportes e meios de facilitar a vida dos atores sociais, principalmente quando  deparados com problemas congênitos ou de difícil solução social (podemos traçar um paralelo neste interim com a pandemia do Covid-19), e que o homem precisa se adaptar às utilizações e dos meios tecnológicos, uma vez que eles já fazem parte da vida social de muitas sociedades, principalmente as mais evoluídas industrialmente

De acordo com Peres (2021), quando o homem se relaciona com os meios tecnológicos os utilizam como suporte de seu desenvolvimento ontológico, não se enquadrando na concepção do Darwinismo Social, ou seja, como este indivíduo está adaptado às realidades tecnológicas, sua permanência no mercado de trabalho ou em outro segmento demandante de conhecimentos tecnológicos ou digitais, terá maior probabilidade de estabilidade profissional em relação àquele que não se adaptou à realidade na qual era preciso um conhecimento mais tecnológico e digital, isto é, quanto maior for a sua adaptação, mais segurança terá em suas atuações profissionais.  

A afirmativa descrita acima corrobora a premissa apresentada na Obra La Loucura del Solucionismo Tecnológico (2016), na qual Morozov relata que,

Consideramos digna a celebração das tecnologias, mas busquemos chamar à atenção que existem formas maléficas que a tecnologia inteligente pode ocasionar principalmente àqueles que não as conhecerem ou não as sabem utilizar, pois todas as nossas conexões sociais (por não mencionar estatísticas úteis como o consumo acumulativo de energia em tempo real), podem acertar cada um de nossos atos mundanos, desde o desenrolar de um lixo até prepará-lo para um novo uso, este de forma manual, mas pode ser realizado de forma industrial ou digital. Pela mesma lógica, também veríamos um desenrolar genuíno e positivo realizado através dos telefones inteligentes e as redes sociais que nos permitem experimentar com invenções que eram impossíveis há décadas atrás (p. 21).    

Traçando um paralelo com Morozov (2020), é possível entender que o homem precisa se adaptar às tecnologias, pois elas estão ao seu redor e não há como mudar esta realidade, mesmo àquelas sociedades sem acesso aos meios  digitais, pois a tecnologia de acordo com Peres (2021) é a ação na qual facilita o desenvolvimento da sociedade, como um todo, ou seja, a criação de um aparato ou meio que facilita a convivência ou bem estar da comunidade local pode ser considerado uma forma tecnológica, uma vez que o homem dentro d sua história é tecnológico.

De acordo com Peres (2021) o homem busca constantemente meios para facilitar sua vida e o seu cotidiano em todos os seus aspectos, mas ele precisa ter a capacidade de interpretar os meios técnicos que facilitam e que prejudicam as suas ações, pois a tecnologia e os preceitos digitais quando não bem empregados tem o poder de denigrir o bem estar social de um indivíduo ou até de uma sociedade.

A utilização das tecnologias deve ser de forma branda e analítica a fim de levar o enaltecimento do homem e da sociedade, caso isso não ocorra os preceitos tecnológicos não terão formas solucionistas, mas ameaçadoras, levando o homem a buscar cada vez mais o isolamento ou a aversão social, criando uma versão errônea do isolamento social da Pandemia do Covid-19.

Morozov (2016) destaca que as tecnologias, principalmente as digitais, estão diante do homem e este experimenta estas ações sem mesmo perceber ou saber que estão realizando tais feitos em sua vida; ele se depara com um frenesi tecnológico desmedido, principalmente quando em contato direto com as redes sociais, e segundo Esposito (2021) as redes sociais e a própria internet se tornam um “instrumento que manipula e dociliza os corpos; não desmerecendo e desvalorizando os benefícios que as redes sociais permitem ao homem, de acordo com sua realidade e cultura; mas o uso inadequado leva o homem a vivência do senso comum” (pp. 12-13).   

Quando se trata de redes sociais e internet, muitas premissas são levadas e discutidas; Morozov (2018) levanta um questionamento relatando que no,

Ponto de vista cultural, sendo o mais interessante não é saber se a internet promove o individualismo ou a cooperação social, o que interessa é o motivo por que temos de levantar questões tão importantes em função da internet como que se tratasse de uma entidade que paira inteiramente separada do funcionalismo do geopolítico e do capitalismo financeiro. Enquanto não conseguirmos pensar fora da internet, jamais conseguiremos fazer um balanço justo e preciso das tecnologias digitais a disposição. (p. 22).

Embasado em tais pressupostos se torna perceptível o enaltecimento do Darwinismo Social principalmente com a gênese da Pandemia do Covid-19, este no qual deixou as pessoas mais dóceis (não no sentido de mansidão, mas de disciplinar o cidadão) (Foucault, 2008) e conectadas à internet por mais tempo; algumas empresas ficaram mais maleáveis (mesmo que de forma forçada) às mudanças e as novas perspectivas digitais, uma vez que muitas destas empresas viviam de forma analógica e de acordo com Morozov (2020) “colocando a tecnologia digital como meio de suprir suas necessidades políticas e econômicas, não necessitando tanto, como outrora da mão de obra humana” (p. 28), se tornou mais atrativo e lucrativo trabalhar, pois elas perceberam que com o funcionário em suas casas as vênias empresariais ficariam menores.

Tais conjecturas vão ao encontro de Foucault (2008) ao relatar que vivemos em uma sociedade panóptica, ou seja, pelos olhares são tecidos análises a fim de discriminar e buscar inserir uma disciplina no meio social, uma vez que os olhares tem o poder de domesticar os indivíduos deixando-os manipuláveis, e diante de circunstâncias atípicas como a pandemia do Covid-19 os olhares ficaram mais acirrados e analíticos, não apenas no Brasil, mas no mundo; podemos entender que esses olhares em tempos pandêmicos foram as contemplações das redes sociais e da internet em meio a uma sociedade carente e necessitada de atenção.

As autoridades que Foucault (2008) relata, na atual circunstância, podem ser comparadas com indivíduos nos quais analisam a vida do outro sem que o outro soubesse ou perceba, uns olhares analíticos, discriminatórios e repletos de julgamentos através das redes sociais e amigos virtuais em demasia se tornam o foco daqueles docilizados, sendo que em sua maioria nem conhecem ou nunca conversaram com os conectados e aceitos em suas redes de amigos cibernéticos, se tornando uma forma de ostentação e autoafirmação, pois quanto maior número de amigos virtuais aprovando os conteúdos postados, expondo uma vida que em sua maioria não condiz com sua realidade, promove nestes docilizados uma satisfação e bem estar emocional paliativo. Desta forma, é possível entender que as redes e a internet, diante da circunstância de Pandemia de Covid-19, levaram e levam os indivíduos a suprirem suas necessidades emocionais, físicas e laborais. 

Esse olhar disciplinador diz respeito em como o cidadão se porta diante da realidade tecnológica e digital, se negligenciando socialmente e criando falsas realidades embasadas em mundo não físico e em muitos casos não condizendo com sua realidade social, valorizando um mundo ilusionário nos quais criam falsos perfis, não valorizando e respeitando o contato pessoal, premissa na qual promove nos homens a capacidade de se compreenderem e viverem em sociedade de forma empírica.

É sabido que com as mídias tecnológicas as sociedade portadoras destes meios conseguem se manter no mercado capitalista, pois com as sistemas cibernéticos o contato com pessoas, reuniões, trabalhos que não demandam a prestação de serviço física, foi possível desenvolver de forma remota; mas a sua utilização ainda se manteve em alta, deixando o contato pessoal em segundo plano, haja vista que esta ação é novidade, mas com a Pandemia do Covid-19 tal premissa se tornou mais presente, podendo ser corroborada esta argumentação ao se deparar com indivíduos que possuem aparelhos telefônicos móveis, com acesso às redes sociais e internet, grande parte dos indivíduos tem algum tipo de rede social e vasculha por elas a vida alheia.   

Com esta forma de entender a sociedade metafisicamente é possível traça uma analogia com Morozov (2016) quando relata que as tecnologias estão assumindo um papel predominante na vida das pessoas, apresentando meios para suprir suas necessidades, em todos os aspectos: Social, Afetivo, Emocional e Laboral, mesmo que sejam soluções não saudáveis e paliativas, mas a presença de uma premissa solucionadora do problema se encontra iminente com as tecnologias.

Diante desta argumentação, Morozov (2016) expõe que,

A ideologia que legitima e sanciona esses tipos de aspirações as chamo de Solucionismo. Uso este termo emprestado e tão pejorativo no mundo da arquitetura e da organização urbana para expressar uma preocupação pouco saudável para encontrar soluções atrativas, monumentais e de mentalidade estreita – como aquelas que maravilham os assistentes de conferências – mas com problemas complexos, fluidos e polêmicos.  Portanto, o solucionismo não é uma maneira elegante de dizer que pra todo martilho existe uma solução tecnológica, mas pela tecnologia, pode se resolver alguns problemas, mas sem entrar em suas raízes mais profundas e profícuas (p. 22). 

    Indo ao encontro destes expostos, Lazzarato (2020) expõe que os problemas ocasionados e que ainda irão surgir com a Pandemia do Covid-19, serão de grandes proporções, afetando de forma ensurdecedora o sistema capitalista e levando a sociedade mundial a perder as esperanças em uma melhora significativa de estruturação social, pois a pandemia proporcionou e está gerando grandes lacunas, não somente econômicas, mas sociais, emocionais e estruturais em um  sentido global e as tecnologias mesmo com todo suporte que ela pode proporcionar não conseguirá suprir as lacunas existências que a pandemia deixou e continuará deixando até o seu fim.

Segundo Morozov (2020) levar a sociedade mundial a se estruturar economicamente e socialmente diante destes problemas é uma realidade na qual será conquistada em longo prazo, sendo preciso a vigilância e o controle sistemático não somente dos cidadãos, mas dos governantes em geral que pode ser auxiliado com os meios tecnológicos, mas, de acordo com Lazzarato (2020) diante de tantas misérias humanas, principalmente da falta de princípios éticos de muitos representantes políticos, a corrupção pode se aflorar de forma desmedida e camuflada em benfeitorias sociais, levando a tecnologia digital se mantiver presente em duas vertentes: a utilização de forma ética voltado para beneficiar os cidadãos, e outra de maneira a auxiliar os cidadãos corruptos com cargos estatais a desviarem verbas públicas.

Esta afirmação de Lazzarato (2020) vai ao encontro do pensamento de Morozov (2020) na qual expressa íntima relação com as tecnologias, mas em uma dupla valência, ou seja, ele é a favor e contra a utilização das tecnologias digitais, uma vez que não há como voltar no tempo, mas é preciso ter uma visão crítica daquilo que está à frente do homem e do meio ao qual está inserido, enxergando e valorizando todas as circunstâncias, isto é o lado positivo e negativo das tecnologias, impetrando uma capacidade crítica acerca da realidade presente.    

Analisando as premissas de Lazzarato (2020) é possível perceber que ela vai ao encontro dos ideais de Morozov (2020) na obra A Cidade Inteligente quando descreve que,

Infraestruturas tecnológicas desenvolvidas com base em princípios que se distanciam das ideias-chave do neoliberalismo (privatização, valorização do empreendedorismo acima de todas as outras formas de atividade econômica e social, rejeição da justiça social como objetivo legítimo das políticas públicas etc.) ajudarão a amplificar e a consolidar os esforços de cidades que buscam deixar o modelo neoliberal para trás em esferas não tecnológicas.

Como já ressaltado, o termo “smart” – tão vago quanto possível – demonstra uma flexibilidade semiótica enorme. Como exemplo está o fato de que, com as investidas da tecnocracia e da responsabilidade com ética [accountability] assomando no horizonte, a indústria da smart city não perdeu tempo em patrocinar as necessidades dos “smart citizens” e em enfatizar a importância de promover a “smart participation” (que, nem é preciso dizer, mostrou- -se fácil de conciliar com o resto do pacote neoliberal). Da mesma maneira, adotamos uma abordagem igualmente (p. 23).

De acordo com Lazzarato (2020), a mão de obra humana sempre será utilizada em todas as esferas capitalistas e socias, mas com este Novo Normal as tecnologias digitais tomarão grande parte destas ações, podendo com o passar dos anos, assumir um maior percentual dos trabalhos braçais, levando os colaboradores a se especializarem em alguma área tecnológica para que suas atividades laborais não fiquem obsoletas, haja vista que tal ação já ocorrera nas grandes montadoras de automóveis, grandes siderúrgicas e demais empresas de grande porte, “sendo sessenta por cento do seu efetivo profissional robotizado, ou seja, o solucionismo tecnológico inserido no meio industrial e demais esferas, já está fazendo parte do cotidiano social” (p. 22).

Morozov (2020) retrata a problemática ao expor que o Solucionismo Tecnológico se apresentou como a resposta de muitos questionamentos criados pelos indivíduos acerca das inconstâncias da sociedade emergida na tecnologia digital e pelas necessidades deste mesmo uso, fazendo com que a teoria se tornasse vicissitudes estruturais nas quais apresentam como um meio de reparar ou suprir algumas inópias e carências humanas.

As redes socias serviram e servem de entretenimento, suprindo estas inópias e misérias humanas nas quais são providas com os amigos virtuais, estes que em sua maioria o indivíduo apresenta uma falsa realidade e busca sua autoafirmação com a aprovação de outros que ela mesma não conhece; para utilizar, em sua minoria, como instrumento de trabalho; e a mão de obra industrial, inserindo as tecnologias para auxiliar o homem, diminuindo, também, as necessidades das muitas mãos de obras que poderia ser supridas com um colaborador devidamente qualificado (Morozov, 2020).

Assim, Lazzarato (2020) vai ao encontro e concorda com as premissas de Morozov (2020) quando descreve que o sistema capitalista pode não sofrer danos estruturais caso se mantenha em cautela e assuma um papel de recrudescimento, principalmente em tempos de pandemia, precisando o homem utilizar das tecnologias como meio paliativo para suprir suas demandas laborais e pessoais.

Uma das formas que elevou o uso das tecnologias no mercado de trabalho foram as atividades remotas, estas nas quais fizeram com que os indivíduos arcassem com os custos de seus trabalhos, tendo as corporações a responsabilidade de oferecer uma ajuda de custo (sem a obrigatoriedade para com o colaborador), lembrando que este trabalho não é novo e estava em ascese e crescimento social bem antes da pandemia, mas com o gênese da Covid-19, acelerou sua utilização no meio social.  

 Lazzarato (2020) e Morozov (2020) comungam dos mesmos ideais quando apresentam a Pandemia do Covid-19 como um meio que veio para apresentar à sociedade uma nova versão de mundo, com algumas limitações, mas não há como negar que a versão tecnológica-digital (nos países que possuem acesso a estes aparatos) veio para auxiliar o homem e levá-los à reflexão sobre sua postura no mercado e na sociedade, uma vez que a tecnologia sempre esteve presente na vida do homem, ele que ainda não havia se percebido tecnológico e digital, mas uma nova versão do tecnológico se estruturou e se arraigou nas raízes da sociedade.

Lazzarato (2020) expõe uma premissa, esta na qual fica difícil de refutar, quem sofreu e está sofrendo com todo ônus material do distanciamento social e os resquícios pandêmicos tecnológicos é o trabalhador que continuou empregado, pois as empresas utilizaram deste momento para amealhar, colocando seus colaboradores em trabalhos remotos, mantendo o distanciamento e não precisando arcar com os custos básicos como água, energia, internet, papeis e despesas com alimentações e transportes dos colaboradores, pois estavam e estão em suas residências, já utilizando dos seus materiais; muitas empresas auxiliavam seus colaboradores em trabalhos remotos com uma ajuda de custo, mas estas pecúnias eram e são irrisórias em relação aos gastos que os trabalhadores possuíam trabalhando em suas residências.

Morozov (2018) expõe que,

A primeira vista os pobres desfrutam daquilo que já está ao alcance dos ricos, no caso o acesso à internet – mas, não custa muito identificar a distinção crucial. A diferença dos ricos, que pagam com dinheiro pelo acesso, este é adquirido pelos pobres com seus dados – dados que o Facebook um dia vai monetizar para justificar toda a operação do internet.org. afinal, não estamos lidando com caridade. O Facebook não está interessado em inclusão digital, do mesmo modo que os agiotas se interessam pela inclusão financeira, ou seja, em função do dinheiro (p. 55).    

A afirmação de Morozov (2018) foi ao encontro da fala de Lazzarato (2020) um ano antes de vivenciar a pandemia do Covid-19 apresentando uma premissa que quem tivesse maiores condições acesso aos meios tecnológicos teria um domínio social sobre outros indivíduos; se analisar esta premissa com olhares críticos e profícuos é possível perceber que as empresas com acesso as tecnologias docilizam os corpos de muitos indivíduos, principalmente os que dependem dos seus serviços, isto é, “a diferença dos ricos, que pagam com dinheiro pelo acesso, justifica toda a operação do internet.org. afinal, não estamos lidando com caridade” (Morozov, 2018, p. 55). 

Lazzarato (2020) em consonância com Morozov (2020) expõe que diante desta realidade quem mais perdeu financeiramente e socialmente foi o trabalhador, pois a empresa passa a fazer parte da sua residência; o colaborador passou a trabalhar mais e seu paço do que na própria instituição, utilizando dos seus bens e insumos, consumindo dos seus materiais e recebendo seus salários sem aumentos e sendo até desvalorizados, pois muitas empresas não depositavam seus benefícios e auxílios uma vez que estavam trabalhando em suas residências.

De acordo com Lazzarato (2020) com as atividades laborais em suas residências, grande parte dos colaboradores se perderem no tempo e no espaço, não conseguindo separar a vida social com o trabalho, pois ambos estavam no mesmo espaço, desencadeando problemas salutares e emocionais. Como a pandemia surgiu sorrateiramente as empresas e os colaboradores foram surpreendidos e precisaram se adaptar diante desta realidade, precisando levar o trabalho para suas residências e famílias, desestruturando totalmente a vida pessoal destes indivíduos.  

Tais premissas levam a duas reflexões acerca do Novo Normal: a vida social se estagnou? Ou a Vida social está se moldando com uma nova roupagem estruturada nas tecnologias que já faziam parte da vida social e os indivíduos ainda não haviam percebido? Estes dois questionamentos podem dar base para uma pesquisa de campo, devido a isso não será aprofundado, mas fica para o leitor analisar e criticar à luz dos preceitos de Morozov se a sociedade se estagnou ou está com uma nova roupagem, esta na qual precisa ser melhor analisada de maneira lúcida e apartidária. 

Embasado nesta perspectiva outro questionamento surge, este no qual será debatido: o sistema educacional passou por mudanças com o advento da Pandemia do Covid-19 ou esteve em transformações e seus atores não perceberam estas alterações que se estruturam com decorrer dos anos. Estes questionamentos acerca da educação em tempos de pandemia vão ao encontro dos argumentos de Peres (2021) no qual retrata que os docentes quando se viram na iminência de repensar em como atingir os estudantes, diante da realidade pandêmica em nível global, tiveram que se assumirem tecnológicos e se adaptar aos meios digitais.

 

A educação mediada pelo solucionismo tecnológico

 

A educação é um dos principais eixos norteadores para o desenvolvimento de um país; através dela a sociedade se desenvolve e eleva sua nação a níveis de eloquências econômicas e sociais, mas com o advento da Pandemia do Covid-19, os princípios educacionais precisaram ser revistos e reinventados diante desta nova realidade na qual foi apelidada pela sociedade de O Novo Normal, ou seja, os cidadãos de forma macro precisaram se adaptar às novas realidades que lhes foram impostas de forma abrupta.

Segundo Rousseau (1968) o ser humano é um ser em constante transformação e adaptável de acordo com a sua realidade na qual está inserida, fazendo com que suas ações sejam organizadas e estruturadas de acordo com as suas vivencias, assim, as suas decisões podem estar embasadas no senso comum, caso este indivíduo não tenha formado uma opinião crítica, sendo esta criada e desenvolvida com uma educação de qualidade, ou em uma concepção crítica, isto é, pela educação que o homem consegue se enxergar como um ser dotado de capacidades e habilidades e caso não tenha desenvolvido uma consciência crítica acerca da realidade presente, se torna manipulável e dócil.

Para que este indivíduo se torne um ser pensante e protagonista de sua história, uma educação com princípios críticos é de extrema importância, não somente para ele, mas para a sociedade na qual ele está inserido, pois o levará a refletir sobre as concepções e percepções que estão ao seu redor e aquelas que foram tomadas, e tais premissas se corroborarão com uma educação em nível não dogmático, isto é, aquela que não esteja manipulado por concepções religiosas sem fundamentos científicos e acríticos (Rousseau, 1968). 

De acordo com Gadotti (2003) o principio educacional está presente no homem desde o seu surgimento e na formação das primeiras sociedades, uma vez que tal ação se corrobora no decorrer das ações culturais que vão se modificando com o decorrer dos anos, sendo uma premissa “natural na existência do ser humano e sua evolução está ligada à evolução da própria sociedade”. (p. 16).

A educação segundo Gadotti (2003) é o passo delineador capaz de proporcionar reflexões críticas acerca da realidade de cada individuo envolto à sua cultura, tomando-a como verdade absoluta e única, sendo tal premissa bilateral, pois a cultura não se apresenta de forma una, mas ela garante meios nos quais elevam a essência humana entre a história, o sujeito e o próprio sujeito; resgatando a história do mesmo com sua bagagem, promovendo a desconstrução de uma cultura, criando e desenvolvendo competências que outrora eram em demasia cegas e unilaterais.

Gadotti (2003) ainda destaca que com o passar dos anos o homem foi evoluindo e com ele as formas de se comunicar e expressar suas necessidades, assim foi-se necessitando de adaptações e tais sofreram alterações, necessitando que estes homens criassem metodologias e métodos para facilitar o entendimento destas mudanças ocorridas por conta da passagem do tempo, denotando desta forma, a evolução dos princípios educacionais, uma vez que a educação é a pura e eloquente comunicação que leva um indivíduo a se perceber no meio ao qual faz parte.

Gadotti (2003) expõe que,

As concepções educacionais não se encontram estagnadas e nunca se encontraram, pois se o homem, a sociedade constituída por estes indivíduos não se estagnam, a educação por sua vez segue estes preceitos, pois ela é a peça na qual denota e eleva a condição humana, fazendo com que a espécie humana consiga viver em sociedade. São pelos princípios educacionais que o homem se enxerga como membro de uma sociedade (p. 125).

Ao se falar de educação muitos pressupostos vem à tona, como por exemplo, a moral, a ética, concepções estéticas, matemáticos, saber se comunicar com eloquência, desenvolver habilidades de oratória e demais habilidades nas quais foram impostas por uma sociedade classista e segregadora como as instituições educacionais com metodologia bancária, defendendo que o indivíduo precisa se apresentar em uma sala de aula para receber o conhecimento, pois a instituição escolar é dotada de preceitos morais e estes precisam ser repassados aos indivíduos que constituirão a sociedade vindoura como apresenta Gadotti (2003).

Segundo Gadotti (2003),

Para que a educação se mantivesse ordeira e diante de uma organização eximia, foram instaurados olhares treinados e disciplinadores dos professores-professores que tinham por incumbência elevar o prestígio da instituição escolar, fazendo dela um espaço que confinassem indivíduos e os domesticassem com princípios já predeterminados por estes ditos profissionais, representantes de uma dita ordem estatal na qual apresentam premissas autoritárias que mutilam a aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades e competências dos indivíduos, pois para que e ordem seja mantida é preciso podar a capacidade crítica do estudante e inserir preceitos já preestabelecidos, não respeitando ou valorizando a cultura que o indivíduo traz consigo (p. 18).

Estas escolas, de acordo com Gadotti (2003) doutrinavam seus estudantes, mutilando suas capacidades críticas e hermenêuticas, não valorizando suas experiências e a cultura que os mesmo carregavam consigo, pois eram obrigados a aceitar o que os docentes ensinavam nos livros e nos diretórios, bem como seguir uma doutrina religiosa. Uma vez que tais profissionais eram considerados os detentores do conhecimento, estes eram vistos como os que possuíram acesso à gnose e tinham todo direito de utilizar da pedagogia na qual considerasse a melhor, assim, o doutrinamento dos estudantes eram preceitos legais e corriqueiros, não oportunizando os alunos a expressarem suas vivências ou aquilo que acreditavam.

De acordo com Peres (2021) muitos educadores não aceitaram e ainda alguns grupos de docentes relutam em trabalhar com as tecnologias em suas aulas, uma vez que elas se desenvolveram para facilitar a assimilação dos conteúdos pedagógicos. Caso o docente não utilize das tecnologias e das tecnologias digitais, as aulas podem ficar cansativas e maçantes, podendo levar a uma limitação na transmissão dos conteúdos e concomitantemente fragilizar a educação, ou seja, as competências e habilidades que deveriam ser apreendidas podem ficar fragilizadas caso o docente não consiga passar o conteúdo corretamente, sendo que as tecnologias estão no meio educativo para auxiliar e não prejudicar.  

Esta forma de educação sempre se fez presente nos ideários educativos, no qual o docente era o detentor do conhecimento, não valorizando e mutilando a bagagem intelectual que cada estudante carregava e carrega consigo, fruto de suas experiências e tradições que foram passadas pelas gerações ou pelo meio no qual ele está inserido. Diante deste exposto a educação, segundo Cepal (2020) com o advento da Pandemia do covid-19 fez com que o sistema educativo obtivesse uma nova roupagem, estruturada nos preceitos digitais a fim de que os estudantes não ficassem prejudicados com o ano letivo e o próprio sistema educacional não passasse por um maior colapso econômico.    

De acordo com as informações do Cepal (2020) a educação e seus atores precisaram e adaptar e inovar diante das circunstâncias que lhes foram apresentadas, causando uma crise sem precedentes, atingindo-a de maneira direta e levando “o encerramento maciço das atividades presenciais das instituições de ensino em mais de 190 países, a fim de evitar a propagação do vírus e mitigar seu impacto” (p. 1).

Segundo Cepal (2020) com o encerramento das aulas presenciais em mais de 190 países e o Brasil dentre estes, introduziram e induziram o aumento das aulas remotas e on-line desenvolvendo e tomando espaços de forma eloquente e preponderante, levando muitas instituições e docentes a buscarem novas formações e nelas meios pedagógicos que fossem ao encontro dos estudantes, proporcionando assim, um frenesi tecnológico desmedido, pois muitos profissionais não estavam preparados para assumir as aulas remotas e outros ainda seguiam os preceitos de uma educação bancária, valorizando apenas as informações contidas nos livros e apostilas didáticas e quando se depararam com uma nova realidade levaram um choque de realidades, vivenciando um Novo Normal sem data para término.  

Indo ao encontro destas premissas, Morozov (2016) relata que,

Aqui temos um desfecho bastante explicito entre a ideia de educação arraigada e o conjunto de soluções tecnológicas, a ideia de educação respeitada durante anos, que ainda apreciam algumas universidades possui muita força. Se bem que em um mundo ideal, ambas as visões podem coexistir e prosperar ao mesmo tempo neste espaço que habitamos, onde os administradores são mais conscientes dos custos do que nunca, é muito mais provável que se imponham o enfoque que produza a maior quantidade de graduados. Mas, existe um perigo oculto do solucionismo: a rápida formação deixa no vazio as concepções políticas dos indivíduos, prometendo resultados quase imediatos e muito mais econômicos, podendo debilitar com facilidade os suportes e apoios educacionais; o brindar de projetos e reformas mais ambiciosos, mais estimulantes do ponto de vista intelectual  requerem maiores esforços (pp. 27-28).      

Nessa busca abrupta de formação as instituições e os profissionais da educação foram obrigados a saírem de suas zonas de conforto, pois por muitos anos alguns grupos de destes profissionais e instituições estiveram estagnados no tempo não valorizando as tecnologias que se aflorava e que ia ao encontro do sistema educativo (Peres, 2021), mas com a pandemia do covid-19 estas instituições e profissionais da educação precisaram se adaptar e buscar novas perspectivas educacionais, trabalhando com os sistemas midiáticos e as ferramentas tecnológicas (Cepal, 2020). 

Segundo Peres (2021),

Diante desta dialética, os conceitos tecnológicos foram se aflorando e com eles os preceitos educacionais podem se democratizar, bem como, também, dificultar seu acesso para aquele público que não possui acesso às tecnologias e dificultar o processo educacional para os públicos não adeptos ou que não possuem meios tecnológicos (p. 29).

Peres (2021) destaca que os conceitos tecnológicos são meios que ajudam o sistema educativo a melhorar sua atuação, além de facilitar a atuação docente em sala de aula, uma vez que, segundo Mayer (1976),   

A Grande habilidade do professor é obter e manter a atenção do aluno, enquanto tiver isso, terá certeza de progredir tão rapidamente quanto a capacidade de o aluno o permitir; e sem isso, toda a pressa e alvoroço terão pouco ou nenhum propósito (por maior que possa ser) a utilidade de quem ensina; e que o professor faça ver ao aluno que, como aprendeu, ele pode fazer algo de que não era capaz anteriormente; algo que lhe dê algum poder ou vantagem real sobre os outros que desconhecem o mesmo assunto  (p. 86).      

Com o advento da Covid-19 em nível global o sistema educativo entrou em colapso, pois as aulas foram interrompidas abruptamente (Cepal, 2020) precisando de uma solução o quanto antes para que os estudantes não ficassem sem as aulas, além de não perderem os milhões que havia sido destinado à educação, e para não  causar maiores transtornos nos calendários e na vida dos pais e aluno caso o ano letivo fosse interrompido.   

A Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco, 2020) destacou que mais de 1,2 bilhão de estudantes ficaram sem acesso ao ensino presencial em todos os níveis educacionais, este número esteve relacionado em nível global, e deste número mais de 160 milhões destes estudantes são da América Latina.

A partir destes dados é possível entender que a melhor solução para que estes alunos tivessem acesso aos conteúdos pedagógicos seriam através dos meios tecnológicos digitais, levando o solucionismo tecnológico a uma contínua presença no sistema educacional, embora a tecnologia se apresente neste mercado há anos, ela não era utilizada como está sendo diante da realidade pandêmica, mas um fato é preciso ser levado em consideração, muitos estudantes em nível global não possuía e não possui até os presentes dias acesso a algum meio digital (Peres, 2021), podendo fragilizar o desenvolvimento das suas competências e habilidades, e mesmo diante de uma solução para este problema, ela atende alguns grupos, não democratizando a educação, premissa na qual deveria ser uma máxima.

Luckesi (2011) revela que a educação deve ter um papel preponderante na vida do indivíduo, mesmo que este ainda não obtenha os melhores meios educacionais, mas o profissional que estiver ministrando as aulas deve atingir o indivíduo dentro do seu contexto e levá-lo às reflexões e avaliações sobre sua vida, assim a educação cumprirá com seu papel, pois para o autor a “educação pode ser compreendida como mediação de um projeto social. Nela há a possibilidade de agir a partir dos próprios condicionamentos históricos” (p. 37), Peres (2021) ainda complementa que este papel social pode ser adquirido com o auxílio das plataformas digitais, celulares, notebooks, tablets e demais meios nos quais estão relacionados às tecnologias digitais, mas um fato é preciso ser relembrado, muitos indivíduos ainda não possui acesso aos meios digitais, prejudicando o acesso à educação diante desta premissa.

De acordo com Mayer (1976) a concepção de educação deveria ser envolvida de ações nas quais elevassem a concepção hermenêutica de cada individuo, valorizando suas capacidades criticas e culturais estas nas quais cada um carrega consigo, mesmo que se em sua base estrutural tivessem conceitos errôneos, o profissional diante destas circunstâncias, ponderaria e pontuaria os pontos que precisassem de maiores atenções; a educação com esta nova roupagem colocaria em questão as concepções dogmáticas existentes no individuo, levando-os à reflexão acerca do exposto e vivenciado por anos, proporcionando a este ser uma nova visão de mundo.

O processo educacional é uma ação que demanda muitos pressupostos e habilidades, pois para atingir o âmago educativo do aluno o profissional precisa estar preparado para entender que em uma sala de aula existem várias formas de interpretar o mundo e com elas suas características, devendo ser respeitadas, uma vez que tal indivíduo carrega nestas interpretações experiências e tradições familiares ou culturais.

 Mayer (1976) complementa que tarefa do docente está em manter os alunos espiritualmente presentes em sala e no conteúdo pedagógico, necessita se adequar às realidades presentes em cada micro sociedade, habilidade mor dos professores, isto é, a sala de aula; se tal premissa ocorrer com maestria, a assimilação dos conteúdos se torna mais leves e fecundos, uma vez que os indivíduos foram respeitados com sua bagagem e o docente utilizou de meios como o respeito à tradição cultural de cada estudante para atingir a sua capacidade interpretativa, promovendo o enaltecimento gnosiológico de este ser em constante formação.     

Diante destes pressupostos educacionais encontramos em Luckesi (2011) que “a educação tem seu papel social no qual possui por incumbência a transformação da vida dos indivíduos” (p. 45), e concomitantemente da sociedade; Cepal (2020) complementa que com o advento da Pandemia do Covid-19 muitos preceitos educacionais precisaram ser adaptados e revistos, alterando os currículos educacionais de muitos países e em especial do Brasil.

Cohen (2017) expõe que,

Esta linha de pensamento interpreta a educação dimensionada dentro dos determinantes sociais, com possibilidades de agir estrategicamente. Portanto, a educação, nesse ponto de vista poderá ser reproduzida desde que também possibilite formar cidadãos críticos e poderá estar a serviço de um projeto de libertação da sociedade capitalista, a educação é visualizada assim como agente da transformação da sociedade (p. 38).

Embasado nestas premissas, a Figura 1 apresenta uma pesquisa realizada com 1000 famílias de todos os estados brasileiros tendo seus filhos nos Ensinos Fundamentais e Médios, indagando se estavam recebendo atividades via remoto ou algum meio tecnológico, e constatou-se que 74% dos alunos tiveram acesso as atividades remotamente; os demais, por motivos de difícil acesso como área rural, ribeirinhos e comunidades de extrema pobreza aos quais não possuíam aparelhos telefônicos, sinais de celulares e computadores precisaram se deslocar às unidades escolares para terem acesso às atividades (em casos específicos algumas instituições escolares destinavam os materiais didáticos a estes alunos).

Embasado nos dados do gráfico seguinte (Figura 1), foram apresentadas e levantadas duas questões, sendo a primeira com abordagem e apresentando que as atividades estão evoluindo e atingindo o aprendizado e a segunda demonstrando que as famílias estão convictas que a educação remota pode suprir as necessidades dos alunos, acreditando e creditando em todos os níveis educacionais que seus filhos não deixarão o ensino por estarem remotamente.

Tais premissas levam às concepções hermenêuticas que a tecnologia e o digitalismo tomarão e terão parte de grande relevância no sistema educacional brasileiro, corroborando em partes a teoria defendida por Morozov (2020) sobre o Solucionismo Tecnológica na Educação, mas esta teoria suprirá partes das necessidades educacionais uma vez que só terão acesso à educação, dentro desta vertente, aqueles que possuírem um aparelho telefônico ou similar com acesso e sinais de internet, haja vista que muitos indivíduos no mundo ainda não possuem acesso aos meios tecnológicos e digitais.

 

Gráfico sobre evolução dos alunos com o aprendizado a distância

Figura 1 – Educação Remota

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/ensino_educacaobasil (2021)

Desta forma, a educação não será destinada a todos, mas apenas a um público, não democratizando o ensino (Peres, 2021) e deixando a níveis de ninguéns e invisíveis muitos indivíduos, sendo que estes podem ser alguéns na sociedade (Palomo, 2021) com as devidas valorizações e oportunidades, sendo que a educação em território brasileiro é direito garantido a todo cidadão.

Não é novidade para a sociedade que a tecnologia está em nosso meio e se encontra em desenvolvendo. A tecnologia nunca deixou de existir, mas com o decorrer dos anos foi se intensificando e com a pandemia do Covid-19 se estruturou e mostrou seu poder diante do sistema capitalista, afirmando seu poder administrativo e docilizante dos corpos através da gestão dos sistemas administrativos e assumindo um papel biológico diante das pessoas. (Foucault, 2008).

Esposito (2021) expõe que as tecnologias não vieram para isolar as pessoas, mas uni-las, facilitando o contato pessoal e até profissional, pois seus usuários podem trabalhar onde estiverem e se comunicar em todo e qualquer lugar do planeta se tiver sinal de internet. Tal premissa pode ser investida na educação, proporcionando meios paliativos e até não paliativos para solução dos problemas ocorridos com a limitação das aulas presenciais.

Percebemos o grande auxílio que a educação obteve com as tecnologias quando os alunos se depararam com as informações em Tempo real nos seus celulares, tablets e computadores, sendo que outrora estas informações eram adquiridas apenas com o professor (mesmo sendo no sistema bancário de ensino), no sistema educacional ou nas bibliotecas físicas, hoje eles adquirem pelas redes sociais e plataformas digitais, porém é sabido dos riscos que estes alunos correm ao obterem algumas informações, em muitos casos sem cunho científico, mas não há como deixar de assumir que tais informações estão acessíveis a todos que possuem acesso aos meios digitais, levando a uma docilização e ordenamento dos corpos. (Foucault, 2008). 

Esposito (2021) define bem a concepção de Morozov (2020) em relação ao solucionismo tecnológico quando retrata que as inovações tecnológicas são de grande apreço para o desenvolvimento social e vão ao encontro de muitas necessidades que se encontram em nosso meio, principalmente diante de uma realidade pandêmica, mas, refuta tais premissas ao apresentar que os aplicativos, redes sociais ou demais tecnologias são capazes de resolver problemas e suprir as necessidades estruturais ou assuntos de ordem emocional, pontual, familiares e patologias sociais.

O mesmo ocorre diante de uma realidade educacional. As tecnologias digitais podem suprir as necessidades momentaneamente como, por exemplo, no ministrar uma aula, aplicar um conteúdo programático, mas não supre o papel do docente em sala para “mediar conflitos sociais e morais que podem surgir em eventuais debates e analisar os comportamentos e olhares dos estudantes se compreenderam a proposta pedagógica ou não” (Freire, 2006, p. 42), podendo o docente mudar sua metodologia a fim de atingir o conhecimento daquele infante que não compreendeu o conteúdo. (Freire, 2006).

De acordo com os expostos, vemos que a teoria do solucionismo tecnológico faz parte do cotidiano educacional e toma cada vez mais forças, pois a tecnologia e junto dela o digitalismo se tornou um meio e o eixo no qual proporciona o desenrolar do sistema educativo em meio à pandemia e quiçá pós-pandemia, levando a sala de aula ou ambiente de trabalho na casa ou no espaço no qual a pessoa se encontra, facilitando os indivíduos terem acesso à educação e o docente ser o mediador deste conhecimento que eles já carregam consigo.

Assim, é possível entender que tal premissa promove algumas benéfices, mas não democratiza a educação, pois apenas alguns grupos serão beneficiados e estes provavelmente serão os detentores dos meios midiáticos e digitais, enquanto os demais grupos sofrerão com o esquecimento, tornando-se ninguéns em terras de alguéns, esta que foi e é constituída por estes ninguéns.  (Palomo, 2021). 

Segundo Gadotti (2003),

A educação não deveria apenas instruir, mas permitir que a natureza desabrochasse na criança; não deveria reprimir ou remodelar. Baseada na teoria da bondade natural do homem, Rousseau sustentava que os instintos e os interesses naturais deveriam direcionar. Acabava sendo uma educação racionalista e negativa, ou seja, de restrição da experiência. (p. 88).

Desta forma, a educação deve ser a chave principal para modificar a sociedade, mas para que esta mudança aconteça, é preciso que os profissionais da educação estejam abertos às mudanças e busquem se inteirar dos preceitos tecnológicos e buscar novas roupagens educacionais, roupagens estas estruturadas nos meios tecnológicos-digitais estes que estão a nossa frente e será difícil seu retrocesso, principalmente pela sociedade ter passado por uma pandemia e ter utilizado destes meios e perceber que ele pode trazer muitas benéfices a sociedade como um todo, porém, uma coisa não pode passar despercebido, essas benéfices estão dispostas às sociedades que possuem acesso aos meios digitais e aquelas que não possuem, ainda precisarão se adequar e vivenciar o Novo Normal dentro das suas realidades.    

 

Materiais e Método

 

Devido ao crescimento desenfreado da tecnologia e a pandemia do Covid-19 que assolou e continua assolando o mundo, levou o sistema educativo e a sociedade a desenvolver uma nova roupagem em relação às suas ações sociais, sendo estas obrigadas a mudar forçosamente, desta forma o artigo teve por Objetivo Geral apresentar a tecnologia como ação presente na sociedade e com o advento da Pandemia do Covid-19 fez com que ela (a tecnologia) florescesse e tomasse algumas proporções alterando o comportamento social.

No Objetivo Específico o artigo se pautou na concepção da Teoria do Solucionismo Tecnológico sob os olhares de Morozov, voltado para o meio educacional, uma vez que a educação é um dos pilares que eleva o desenvolvimento da sociedade, e Morozov por ter um olhar neutro e crítico acerca das tecnologias, foram-se utilizadas algumas de suas obras e de outros autores para apreender um olhar tecnológico para o conceito educacional em época de pandemia.

Em relação à Metodologia de pesquisa não houve uma completa investigação qualitativa, pois não ocorreu uma pesquisa de campo, mas foi deixado em aberto para novas pesquisas e aprofundamentos acerca da temática, premissa na qual pode ser desenvolvida em outros trabalhos, porém, para que o escrito mantivesse seu cunho científico foram utilizados grandes literários da educação, documentos e artigos nos quais retratavam a utilização das tecnologias digitais.

Gil (2008) define que estes métodos são de grande valia para a validação do artigo ou da escrita científica, pois promove e objetiva meios técnicos ao “investigador, garantindo a exatidão, objetividade e a veracidades dos dados coletados ou dos autores utilizados na revisão bibliográfica, propendendo munir o material escrito com as informações mais lúcidas e pertinentes” (p. 62) em relação ao problema da investigação. 

No decorrer do artigo foi tratado que muitos profissionais ainda não se enxergam como tecnológicos, pressuposto visto como o primeiro problema, pois com o advento da Pandemia do Covid-19 grande parte dos profissionais (principalmente os da educação) e empresas precisaram de reinventar diante desta realidade e esta reinvenção se deu com a utilização dos meios digitais

Também, com as mudanças que ocorreram de forma brusca e truculenta, o macro sistema educativo precisou trabalhar a fim de cumprir com as demandas financeiras e sociais, fazendo com que a Educação a Distância (EaD) tomasse o papel da presencialidade do docente em sala de aula, este sendo um outro  problema tratado no decorrer do escrito.

O artigo se justificou em como os docentes e a sociedade se portaram diante da nova roupagem que precisaram assumir diante das tecnologias, não sendo uma nova realidade, mas com o advento da pandemia houve uma aceleração de sua inserção no mercado.

Assim, o artigo se manteve com integridade científica, passando informações claras a fim de informar e formar o público ao qual ele se destinou: os profissionais da educação; tendo por resultado que a tecnologia sempre fez parte da vida do homem e dos profissionais, principalmente os da educação, e estes precisam se verem como tecnológicos e digitais, enxergando o solucionismo tecnológico como um suporte e não como um fim dos problemas.

 

Considerações Finais

 

Com o advento da Pandemia do Covid-19 muitos entraves foram discorridos na sociedade global, pontuando uma nova concepção de normalidade e levando a sociedade a se reinventar diante dos distanciamentos e o avanço dos meios tecnológicos em grande parte dos setores sociais. É sabido que a tecnologia não se desenvolveu com a Pandemia, mas com ela os meios tecnológicos, principalmente os digitais, tiveram sua aceitação (mesmo que forçado por algumas empresas e pelo sistema educativo) a fim de manter o distanciamento social, mitigando a contaminação do vírus e para que a sociedade não se estagnasse por completo, pois se tal premissa ocorresse, o caos seria muito maior.

Esta nova normalidade elevou o uso das tecnologias e o avanço do digitalismo, promovendo como solucionadoras dos percalços administrativos, políticos, sociais e educacionais, mas estes solutos não se deram somente com a utilização das tecnologias, elas fazem parte de um contexto social e os indivíduos devem as enxergar com olhares neutros e analíticos a fim de não criarem concepções errôneas sobre as tecnologias que podem ser boas e ruins ao mesmo tempo.

Morozov foi um dos autores nos quais analisou as tecnologias em seu contexto com um olhar analítico, apresentando uma dualidade de contextos, expondo seus benefícios e levando o leitor a uma reflexão acerca de suas decisões e concepções em torno das tecnologias e do digitalismo, premissa que se desenvolveu com destreza nas atividades em tempos de pandemia.

Não há como menosprezar a funcionalidade do Solucionismo Tecnológico, principalmente com o advento da pandemia e suas consequências mundiais, mas assumir que ela suprirá as necessidades da sociedade é menosprezar as faculdades intelectivas do homem e negar a sua própria evolução, esta que nunca se estagnou ou extinguirá, pois o homem está em constantes mudanças e se aperfeiçoando, assim, o Solucionismo Tecnológico é mais um dos resultados desta evolução, uma vez que esta teoria busca apresentar os benefícios que as tecnologias podem proporcionar ao homem, bem como as facilidades da resolução das atividades laborais e educacionais, promovendo certa facilidade aos seus usuários de acessar conteúdos ou realizar ações presenciais que em pandemia não eram possíveis, mas esta premissa se corrobora em sociedades que possuem acesso aos meios tecnológicos e digitais, ou seja, as sociedades que ainda não possuem estes meios ficam em defasagem.      

Por mais que as pessoas obtenham acesso às muitas formas de conhecimento, a educação precisará de alguém para decodificar as mensagens subliminares existentes em todos os materiais que eles tiverem acesso, ou seja, a tecnologia e o digitalismo sempre fizeram e farão parte do cotidiano do ser humano, mas ela não será a única forma de solucionar os problemas, mas, um dos suportes para que estes percalços sejam solucionados de forma paliativa, uma vez que o contato e o calor humano trazem benefícios e promove uma formação dupla, isto é, o mesmo individuo que ensina, aprende.         

Diante destes questionamentos e dos expostos é possível perceber que a Pandemia do Covid-19 promoveu e continua promovendo um Darwinismo Social e Laboral, isto é, aqueles que se adaptarem a esta nova realidade, centrada na tecnologia, conseguirá se estruturar na sociedade e no mercado capitalista, além de forçar os cidadãos e trabalhadores buscarem novas formações e capacitações, mesmo arcando com os ônus que deveriam ser de outrem, promovendo a ideologia pauta desta discussão, sem nenhuma concepção de democracia.

Além destes pontos é possível perceber que a tecnologia faz parte da vida do homem e não tem como negar a sua existência, principalmente no meio educacional, uma vez que com as tecnológicas digitais, em sociedades possuidoras destes aparatos facilitou e levou a educação a todos os indivíduos, mas uma premissa deixou a desejar, muitos alunos sem os aparelhos tecnológicos e digitais não conseguiram acessar as atividades educativas e as aulas virtuais, como apresentado na Figura 1, precisando a instituição escolar levar as atividades em mãos aos alunos, demonstrando que a tecnologia ainda está aquém de ser uma ação na qual democratiza os acessos na sociedade.

É preciso ter um olhar critico e apartidário diante desta realidade a fim de averiguar se as tecnologias estão segregando ou conectando os indivíduos, em todos os aspectos e segmentos; as sociedades com acesso às tecnologias, os indivíduos precisam se enxergar tecnológicos, pois muitos grupos ainda não se veem e não aceitam as tecnologias, como muitos docentes que se viram impelidos a buscar novas formações para não ficarem obsoletos e perderem seus trabalhos.

Assim, é possível chegar a um resultado que a tecnologia sempre fez parte da vida do homem e dos profissionais, principalmente os da educação, e estes precisam se ver tecnológicos e digitais, enxergando o solucionismo tecnológico como um suporte e não como um fim, mas para isso estes profissionais precisam buscar especializações constantemente. 

 

REFERÊNCIAS

 

Cepal (Comisión Económica para América Latina y el Caribe), La Educación em tiempos de la pandemia do COVID-19 (2020).  Informe Especial COVID-19, N° 3, Santiago (pp. 2-18), agosto.

Cohen, S. (2017). Ferramentas tecnológicas em sala de aula. São Paulo: Ática.

Esposito, R. (2021). Biopolítica y coronavirus. Lisboa: Edições 70. Recuperado de: https://www.filco.es/biopolitica-y-coronavirus/.

Foucault, M. (2008). Segurança, território, população: curso dado no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes.

Freire, F. (12ª Ed.). (2006). Pedagogia da Libertação. São Paulo: Paz e Terra.

Gadotti, M. (8ª Ed.). (2003). História das ideias Pedagógicas. São Paulo: Editora Ática.

Gil, A. C. (6ª Ed.). (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Editora Atlas S.A.

Lazzarato, M. (2020) ¡Es el capitalismo, estúpido! In: GARCÍA, F. G. Capitalismo y Pandemia. Buenos Aires: Editorial Filosofía Libre.

Luckesi, C. C. (2.Ed.). (2011). Filosofia da Educação. São Paulo: Ed. Cortez.

Morozov, E. (2020). Solucionismo, nova aposta das elites globais. Trad. Simone Paz. Ribeirão Preto: Outras Palavras.        Recuperado de: https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/solucionismo-nova-aposta-das-elites- globais/

Morozov. E. (2016). La loucura del solucionismo tecnológico. Trad. Nancy Viviana Piñero. Buenos Aires: Katz Editores.

Morozov, E. (2018). Big Tech: A ascensão dos dados e a morte da política. Trad. Cláudio Marcondes. São Paulo: UBU Editora.

Morozov, E. (2020). A cidade Inteligente. São Paulo: UBU Editora. 

Palomo, C. (2021). Os Invisíveis. Vídeo. Youtube, 17 de julho. Recuperado de: https://www.youtube.com/watch?v=IL-IvhMA360

Peres, J. (2021). Democracia, Educação e Tecnologia. Avances De Investigación, 8(1), 28-46. Recuperado de: https://doi.org/10.47966/avan-inv.2021.8128-46

Rousseau, J.J. (1968). Émile ou de Véducaution. Paris: Garnier – Flammarion.  

Unesco (Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura), Nuevas publicaciones cubanas para enfrentar efectos de la COVID-19 sobre la educación. Oficina de la UNESCO en La Habana, 2020. Recuperado de: https://es.unesco.org/news/nuevas-publicaciones-cubanas-enfrentar-efectos-covid-19-educacion

 

 

 



[1] Licenciatura Plena em Ciências Humanas (Filosofia, Sociologia, História e Ensino da Religião) pela USC – Universidade do Sagrado Coração/Bauru-SP. Técnico em Administração de Empresas pelo Instituto de Ensino Profissionalizante (IEP). Tradutor de textos acadêmicos nas línguas: Grego, Latim e Italiano; Palestrante na Formação humana contínua. Docente da Rede Pública de Educação do Estado de São Paulo.  E-mail: jrphilophos@yahoo.com.br

[2] Grifo do autor